O tabagismo e o consumo de álcool são os fatores de risco mais bem estabelecidos para o câncer de laringe. A relação é conhecida desde a década de 1950, quando foram concluídos os primeiros estudos epidemiológicos sobre essa neoplasia, responsável por cerca de 73,5 mil mortes por ano no mundo.
Agora, uma pesquisa realizada na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) traz novas perspectivas para o entendimento das causas da doença. Segundo o estudo, indivíduos expostos em ambientes de trabalho à sílica, à fuligem e a toxinas presentes em locais de criação de animais têm risco aproximadamente duas vezes maior de desenvolver câncer de laringe, quando comparados a pessoas não expostas a essas substâncias.
O trabalho, que acaba de ser publicado na revista Cadernos de Saúde Pública, foi conduzido pelo médico Sergio Sartor em seis hospitais do município de São Paulo. Participaram 122 pessoas com câncer de laringe – 104 homens e 18 mulheres – e 187 que não apresentavam a doença – 142 homens e 45 mulheres. Todos com idades entre 38 e 79 anos.
Os indivíduos foram entrevistados nos hospitais, por meio de questionários padronizados que incluíam informações sociodemográficas, história ocupacional, condições de moradia, histórico familiar de câncer, antecedentes de doenças infecciosas e padrões de dieta.
Os resultados apontaram que os indivíduos com exposição à sílica cristalina livre respirável tiveram 1,83 vez mais chances de desenvolver câncer de laringe, enquanto o índice foi de 1,80 para aqueles com contato com animais e de 1,78 com fuligem.
“Quando analisamos partículas sólidas que ficam dispersas no ar após a queima de metais utilizados no processo de soldagem, por exemplo, esse índice subiu para 2,55. Essa categoria de material em suspensão foi chamado no estudo de ‘fumos em geral’”, disse Sartor, também subgerente de Serviços de Saúde da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, à Agência Fapesp.
O pesquisador explica que poeiras com alto teor de sílica são normalmente produzidas com o corte de mármores e granitos. A fuligem, por sua vez, é gerada com a queima de carvão mineral, madeira e óleo combustível. Já os riscos identificados no estudo com a criação de animais ocorrem principalmente no manejo do gado.
“A terra do solo contaminada com fezes e urina, que vira poeira quando os animais se movimentam, contém toxinas e bactérias que podem estar contribuindo para o câncer de laringe, assim como a inalação de pesticidas utilizados para o tratamento de pragas como carrapatos”, sugere o pesquisador. “Identificamos as relações citadas, mas as causas potenciais devem ser mais bem estudadas.”
O estudo integrou um projeto multicêntrico que abrange pesquisadores do Brasil, Argentina e Cuba, denominado Estudo Internacional de Fatores Ambientais, Vírus e Câncer de Cavidade Oral e Laringe. Coordenado pela Agência Internacional para Pesquisa em Câncer (Iarc), na França, o projeto teve como objetivo investigar o papel de diversos fatores para o desenvolvimento de câncer de boca, faringe e laringe.
Para ler o artigo Riscos ocupacionais para o câncer de laringe: um estudo caso-controle, disponível na biblioteca eletrônica SciELO (FAPESP/Bireme), clique aqui.
(Por Thiago Romero, Agência Fapesp, 09/08/2007)