"Sobre o projeto de transposição, quem é a favor ou está mal informado ou mal intencionado", disse o sociólogo da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Ruben Siqueira, durante oficina no II Fórum Social Nordestino (II FSNE) sobre os partidários do principal projeto defendido pelo governo federal, para a região do semi-árido nordestino.
No sábado (04), a Frente Cearense por uma Nova Cultura de Águas e Contra a Transposição, abriu o seminário A transposição de águas do rio São Francisco. Magnólia Said fez um panorama sobre os modelos de desenvolvimento baseados na exploração desenfreada, do ambiente e dos trabalhadores.
Na seqüência, Ruben Siqueira apresentou dados sobre o que é o projeto de transposição - histórico, a quem beneficia, custos e quem paga a obra. Josivaldo, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), falou sobre as ações desencadeadas por organizações sociais e movimentos populares, no sentido de resistir contra projetos que não respeitam a manutenção da vida, a exemplo da transposição.
Ele disse que o acampamento montado por cerca de 1500 trabalhadores, em Cabrobó (PE), e que culminou com a retomada de terras pelos índios Truká e Tumbalalá, entre junho e julho desse ano - na área do que seria a tomada de água do eixo norte, serviu para aglutinar mais forças que devem intensificar as ações caso o governo insista em forçar o andamento da obra. "Como já tem feito usando o exército e desrespeitando o povo", argumentou.
Por fim, o indígena alagoano conhecido como José de Santa falou sobre as condições de sobrevivência e possíveis impactos da obra para povos e comunidades tradicionais. Ele ressaltou que os dois canais da transposição, norte e leste, partiriam de terras indígenas de povos, como Tumbalalá e Pipipã, que há mais de dez anos aguardam a demarcação do território.
Além da Frente Cearense, a atividade foi organizada junto com o Fórum Permanente em Defesa do São Francisco da Bahia, Comissão Pastoral da Terra (CPT), Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP), Processo de Articulação e Diálogo (PAD) e a Rede Brasileira pela Integração dos Povos (Rebrip).
Exposição e conferênciaAo mesmo tempo do seminário um estande expunha e distribuía material para divulgação das experiências de convivência com semi-árido. A intenção era demonstrar a existência de alternativas à área urbana e rural, para armazenamento e distribuição da água existente e suficiente no nordeste. O material foi organizado por organizações que tem atuação na bacia do São Francisco, como a ASA (articulação do Semi-Árido).
A tarde a conferência Desenvolvimento no Nordeste: democrático, sustentável, socialmente justo e ambientalmente sustentável, também tratou das lutas contra a transposição e da preservação de rios e bacias.
OficinasNa sexta-feira (03/08), o dia foi iniciado com duas oficinas. Na primeira houve uma mostra de dois filmes e fotografias, seguidos por debate. Os participantes levantaram questões sobre a necessidade das organizações e movimentos, junto com comitês de bacia, intensificar as ações contra a transposição nos chamados estados receptores - Rio Grande do Norte, Ceará, Paraíba e Pernambuco.
Na segunda, houve uma encenação de um programa de TV onde um entrevistado representava o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, e o outro os movimentos sociais. Eles polemizaram questões sobre o tema e em seguida abriram para trabalhos em grupo e debate com os participantes.
Como encaminhamento foi decidido enviar uma carta ao Partido dos Trabalhadores (PT) - que realiza encontro estadual na Bahia - cobrando posicionamento sobre o assunto, a representantes dos poderes executivo e legislativo, e uma reunião entre representantes de organizações sociais e movimentos populares, que participam do IIFSNE.
(Por Clarice Maia, da Articulação Popular São Francisco Vivo /
Adital, 06/08/2007)