Membros do grupo indígena guarani estão sofrendo de má nutrição e a resposta do governo brasileiro não está sendo adequada. Sob esse alerta da entidade britânica Survival International, que apresenta dados preocupantes sobre a situação dos indígenas no Mercosul, a Organização das Nações Unidas (ONU) comemora hoje em todo o mundo o Dia Internacional das Populações Indígenas, estimadas em 370 mil indivíduos em 70 países.
Segundo a Survival International, os problemas de saúde com os guaranis estão sendo notados tanto no Brasil como na Argentina. Na região de Iguaçu, por exemplo, 50% das crianças do grupo estão malnutridas. Em apenas uma comunidade na Argentina, nove morreram de fome em menos de um ano.
O problema também atinge níveis alarmantes em Mato Grosso do Sul, onde mais de 11 mil indígenas vivem na reserva de Dourados. No dia 1º de agosto, um dia depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmar que a desnutrição entre as crianças guaranis caiu 82%, a morte de Francieli de Souza, de 2 anos, por motivos relacionados à subnutrição, chamou atenção para precariedade da situação.
Segundo o diretor do Departamento de Saúde Indígena da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), Wanderlei Guenka, depois de 1999, quando a entidade passou a ser responsável pela saúde indígena, a mortalidade infantil era de 140 mortos por mil nascimentos, e hoje, na reserva de Dourados, é de apenas 24 por mil.
CESTASPara a Survival International, no entanto, os alimentos distribuídos pelo governo não são apropriados ao padrão de vida dos indígenas, o que dá espaço a doenças e um nível elevado de desnutrição. Guenka, no entanto, argumenta que a cesta de 22 quilos, composta por arroz, feijão, macarrão, fubá e óleo de soja, não é considerada uma cesta básica, e sim complementar. 'Esses alimentos vêm para complementar o que os indígenas já produzem, como mandioca, verduras e tabaco', explica.
Ele afirma que um acordo entre Funasa, Fundação Nacional do Índio (Funai), governo de Mato Grosso do Sul e Ministério do Desenvolvimento Social visa a resolver o problema do fornecimento de cestas básicas a populações indígenas. 'O ministério comprará, o governo estadual vai empacotar e a Funasa e a Funai serão responsáveis pela distribuição', contou. 'A partir do dia 15 de agosto a situação se normalizará', garante.
Outra acusação da entidade britânica se refere ao fato de que muitos indígenas estão se vendo obrigados a trabalhar nas colheitas de cana-de-açúcar e soja no Centro-Oeste brasileiro. Mesmo assim, de acordo com a Survival International, o que ganham não é suficiente para manter suas famílias.
(Por Jamil Chade e Paulo Darcie,
O Estado de S.Paulo, 09/08/2007)