A Fundação Ezequiel Dias (Funed) informa que a análise de amostras de sangue das regiões Norte e Nordeste do País indicam que a ingestão do suco de açaí produzido artesanalmente representa uma nova forma de contágio da doença de Chagas. O alerta foi feito com base em um levantamento solicitado pelo Ministério da Saúde.
O Serviço de Doenças Parasitárias da Funed recebeu nos últimos doze meses - de julho de 2006 a julho deste ano - 1.420 amostras. A chefe do setor, Eliana Furtado Moreira, disse que os registros de contágio foram identificados principalmente no Pará, Bahia, Piauí e Goiás. 'A investigação dos casos mostrou que a provável causa da contaminação foi a ingestão do açaí, triturado juntamente com o barbeiro (inseto transmissor da doença) ou suas excreções', afirmou.
A hipótese sobre a nova forma de contágio, segundo os pesquisadores, é reforçada pelo surto da doença verificado em março de 2005, em Santa Catarina, quando algumas pessoas foram contaminadas ao ingerir caldo de cana-de-açúcar. De acordo com Eliana Furtado, o contágio por via oral acarretado pela trituração do barbeiro juntamente com alimentos é uma de várias formas de transmissão.
O contágio pode ocorrer também pela picada do inseto; pelo depósito de fezes na pele humana (provocando coceira e, assim, a entrada do parasita na corrente sanguínea); ou pelo contato direto com as fezes e urinas depositadas pelo barbeiro em alimentos.
Os sintomas mais freqüentes são febre e mal-estar, muitas vezes confundidos com outras doenças.
A fundação, sediada em Belo Horizonte, é responsável pela análise das amostras de sangue do Norte e Nordeste brasileiro. Eliana Furtado observou que o açaí é uma fruta típica dessas regiões e os produtos consumidos em outros Estados normalmente são as polpas industrializadas, que sofrem o processo de pasteurização.
Segundo a pesquisadora, a produção caseira nem sempre obedece às normas da Vigilância Sanitária e a única maneira de evitar a contaminação via oral é o acompanhamento intenso por parte dos órgãos estaduais. 'Para evitar a disseminação da doença, a fruta deve ser pasteurizada, ou seja, sofrer um choque térmico, o que ocorre sempre na produção industrializada', frisa.
(
O Liberal, 08/08/2007)