Os peixes dos principais igarapés que cortam Manaus estão desaparecendo em função da poluição crônica. No lugar de acarás, peixes lápis, ruelos de tambaquis, entre outras espécies, observa-se nos leitos do Mindu, São Raimundo, Franco, Cachoeirinha, Mestre Chico, Quarenta, entre outros, espécies exóticas como as tilápias (Oreochromis niloticos ) de origem africana, por exemplo.
Através da dissertação de mestrado realizada no Inpa: "Efeitos da fragmentação florestal sobre as assembléias de peixes de igarapés da zona urbana de Manaus" do biólogo Hélio Daniel dos Anjos se tem uma noção do estrago provocado pela destruição da natureza, nos últimos tempos.
Depois de dois anos de trabalho de campo, Anjos constatou que os igarapés existentes na reserva Ducke chegam a ter até 71 espécies de peixes nativos, um número que evidencia que há solução para o problema da extinção de inúmeras espécies amazônicas, se os cursos d'água forem despoluídos. Esta é uma tarefa que demanda vontade política, como se propõe a Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma), com o projeto do corredor ecológico do Mindu, onde em seus 24 quilômetros de extensão será feito um dos mais arrojados programas de saneamento.
Nesta direção, o governo federal está disponibilizando R$ 108 milhões, com uma contrapartida de R$ 12 milhões da prefeitura. Esses R$ 120 milhões vão auxiliar na remoção de até quatro mil residências das margens do Mindu, o que deve contribuir para uma despoluição gradual ao longo dos próximos anos permitindo o retorno dos peixes nativos, que precisam de água limpa para sobreviver.
Mas os igarapés da reserva Ducke são exceção, porque no São Raimundo e na Bacia do Educandos, o cenário é desalentador. Antigos pescadores locais deixaram de exercer a profissão e barqueiros solitários catam madeira e outros resíduos nos leitos poluídos, onde as tilápias, os tamoatás, bodós e outras espécies que respiram na superfície, conseguem sobreviver aos baixos níveis de oxigênio.
Segundo o biólogo e doutor em ecologia Jancen Zuanon, 43, que foi o orientador de Anjos, a situação dos igarapés da capital é gravíssima, pois a poluição e a presença de metais pesados na água inviabilizam o consumo das espécies existentes. "Quem comer peixe pescado nos principais igarapés de Manaus está se expondo a contaminação grave. Isso me preocupa".
(Por Antonio Ximenes,
A Crítica, 08/08/2007)