O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não encontrou, na Nicarágua, ambiente político para fechar um acordo sobre biocombustíveis, um dos principais temas da viagem que faz esta semana ao México e a países da América Central.
“Não é a primeira vez que chego a um país e que há clima de divergência política no ar. Eu nunca me incomodei, porque se tiver divergência, elas têm que ser explicitadas. E se não tiver, também tem que ficar explícito”, afirmou nesta quarta-feira (08/08), em declaração à imprensa junto com o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega.
Durante a entrevista, Ortega disse que a posição do governo nicaragüense é clara: o país não tem interesse em produzir etanol derivado de milho. “É inadmissível, é um crime você atentar contra um produto básico na alimentação no país”.
Segundo o presidente, essa divergência não está relacionada com Lula, mas com o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush. “Temos uma discrepância não com Lula, porque ele produz etanol com cana-de-açúcar, mas com Bush, que saiu com essa proposta de produzir etanol com milho”.
Na avaliação de Ortega, a proposta do norte-americano é “totalmente absurda”, porque “atenta contra o direito alimentar dos povos latino-americanos e o povo africano”.
Sobre a proposta de produzir etanol a partir de cana-de-açúcar, ele ponderou que é preciso tomar cuidado com a monocultura e com prejuízos ao meio ambiente.
Lula, por sua vez, ressaltou que a produção de biocombustível deve levar em conta a preservação ambiental, além da segurança alimentar. “Produzir etanol de milho na Nicarágua é como produzir etanol de feijão no Brasil. Ou seja, é impossível”.
Ainda assim, o preisdente brasileiro voltou a afirmar que a produção de etanol é uma alternativa viável aos países mais pobres. “Se nem todo o país tem tecnologia e nem todo o país tem petróleo, todos os países do mundo, por mais pobres que sejam, (...) sabem cavar um buraco de 30 centímetros e colocar uma planta que pode produzir o óleo que ele precisa. É com essa lógica que nós estamos disseminado a política de biocombustível do Brasil”.
Ortega afirmou que a Nicarágua está buscando soluções energéticas a curto prazo. Diariamente, a população de Manágua, capital do país, tem que conviver com um racionamento de energia de quatro a dez horas.
“Temos um potencial hidrelétrico mais que suficiente para cobrir a demanda do país. Esse é um tema crucial para conversar com o Brasil”, afirmou Ortega.
Lula concordou. Disse que emergencialmente é preciso resolver a questão energética da Nicarágua. E ressaltou que a construção de hidrelétricas que é uma solução a médio prazo.
“O governo brasileiro está disposto a discutir com a Nicarágua financiamentos, participação de empresas e construir as hidrelétricas que forem necessárias”.
Apesar da falta de consenso na área dos biocombustíveis, os dois presidentes disseram estar emocionados com o encontro por serem amigos de longa data.
“Temos uma relação de amizade de mais de 26 anos. A Frente Sandinista [Frente Sandinista de Libertação Nacional, partido do presidente Ortega] e o PT têm uma relação histórica nos bons e nos maus combates, nas vitórias e nas derrotas”.
(Por Macela Rebelo, Agência Brasil, 08/08/2007)