Lajeado - Houve uma época em que não existia eletrodomésticos como televisão, microondas e computador. Nesse mesmo período a população era bem menor do que a de hoje. Sem essas comodidades e com pouca gente, não havia necessidade de os países disporem de tanta energia. Mas os tempos mudaram, a população aumentou e o consumo também. A busca por novos combustíveis não se restringe ao Brasil. Todas as nações procuram alternativas economicamente viáveis e politicamente corretas, sem depender demasiadamente de outros países. Com essa perspectiva, há alguns anos o chamado biocombustível apareceu em nível mundial. Mas o que é para ser o mocinho, está mais para vilão. Essa, pelo menos, é a opinião do diretor mundial da Danone, Alfonso Rafim. Na terça-feira à noite, no auditório do prédio 3 da Univates, ele ministrou a palestra 'Causas e efeitos dos biocombustíveis'. A conclusão de Rafim é que a globalização dessa fonte de energia não contribui para minimizar o aquecimento global. Ao contrário, mina com a produção de alimentos no planeta.
A opinião do especialista segue a de pessoas e órgãos tão conceituados quanto ele. Recentemente a Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou relatório preliminar que indicou aquilo que o executivo da multinacional sustenta. A lógica deles é simples. A matéria-prima do biocombustível vem de grãos como a soja e de cereais como o milho e trigo, insumos indispensáveis para alimentar suínos, aves e bois. Com a concorrência cada vez maior, falta comida para os animais e, conseqüentemente, para os seres humanos. "O preço da comida tem subido muito por causa dos cereais e vegetais utilizados no biocombustível. A tendência é que os alimentos clássicos, como a carne e o leite, dobrem de valor", projeta Rafim.
Ele vai mais longe e afirma que a fonte de energia considerada limpa polui sim. "Está se criando uma monocultura do biocombustível, que enfraquece o solo e, por conseqüência, libera gás carbônico na atmosfera." Ele explica que além do forte efeito econômico e ambiental, a busca desenfreada resulta em impacto social. "Vai acentuar a disputa por terras e a fome, principalmente nos países pobres."
SoluçãoSem poder contar com o biocombustível, Rafim vislumbra outras alternativas. "Tem-se que trabalhar as verdadeiras energias limpas. Está se gerando uma ilusão e estamos retardando decisões importantes." Ele aposta até mesmo na fonte nuclear. "Criou-se um pânico por causa dos efeitos devastadores de catástrofes como Chernobyl, mas a realidade é que as usinas melhoraram muito a segurança e os métodos, com a vantagem de que não emitem CO2." Para os contrários a essa proposta, ele sugere outra também não muito simpática. "O mundo todo deve pensar que é possível um decrescimento econômico, uma redução do consumo energético. Do contrário, não há solução para que a sociedade seja igualmente feliz e satisfeita."
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O Informativo do Vale, 08/08/2007)