Enquanto os relógios começam a fazer a contagem regressiva oficial para as Olimpíadas de Pequim, a um ano do evento, o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Jacques Rogge, se mostrou alarmado com a gravidade da poluição em Pequim. Ele e outros membros do COI estão na capital chinesa, participando da celebração marcando o tiro de largada para as Olimpíadas, que conta com mais de 10 mil convidados, entre líderes políticos, celebridades e autoridades olímpicas.
Durante entrevistas com a imprensa, Rogge chegou a afirmar que a poluição pode prejudicar algumas provas esportivas. "Em esportes de resistência, como ciclismo, nos quais é preciso competir durante seis horas, poderemos ter que adiar as provas", admitiu. Em entrevista ao canal de televisão americano CNN, Rogge afirmou ainda que colocará "a saúde dos atletas em primeiro lugar'. "Teremos planos de contingência", disse.
Estada prolongadaSeu colega John Coates, presidente do Comitê Olímpico Australiano, que também está na China, chegou a reconhecer que recomendará aos esportistas australianos viajarem a Pequim só cinco dias antes do início de suas modalidades. Coates calcula que uma estada prolongada num ambiente tão contaminado como este pode interferir no desempenho físico dos atletas. "Isso só iria aumentar as chances de eles contraírem doenças respiratórias ou gástricas, ainda mais se você não está adaptado ao lugar", justificou.
Os governantes chineses estão se desdobrando para resolver o problema. Mas reconhecem que não há muito tempo até a cerimônia de abertura dos Jogos, no dia 8 de agosto de 2008. Entre as medidas anunciadas para o período das competições, Pequim reduzirá em mais da metade o tráfego de carros no centro da cidade e bombardeará as nuvens com iodeto de prata para provocar chuvas artificiais. A idéia é conseguir um céu mais azul, já que nesta época do ano é notória a cinza e úmida camada de poluição que envolve a paisagem.
AnfitriãDesde que foi escolhida sede olímpica, em 2001, Pequim está obstinada em passar à história como a anfitriã dos melhores Jogos Olímpicos da Era Moderna. Para isso, a cidade vem trabalhando nos preparativos de forma frenética. Com um batalhão de operários terminando a infra-estrutura, a cidade já tem quase todas as instalações esportivas acabadas – inclusive o suntuoso estádio de atletismo "o Ninho", uma das obras mais ousadas do país, toda projetada em anéis de aço.
Mas o preço de tanta eficiência é uma selva de guindastes e poluição que se formou em Pequim. Como a China tem crescido rápido demais e de forma caótica, nos últimos anos, é difícil conter os efeitos colaterais. Na cidade convivem a fumaça de inúmeras fábricas, os dejetos da construção civil, uma crescente frota de carros e quase 20 milhões de habitantes, que mantêm hábitos ainda pouco ecológicos.
Entretanto, apesar de parecer um cenário espantoso para o resto do mundo, o presidente do BOCOG (Comitê Organizador dos Jogos), Liu Qi promete que Pequim não mostrará essa cara feia durante os Jogos. Pelo menos entre os dias 8 e 24 de agosto de 2008, ele garante que será feito o possível para manter a poluição em níveis mínimos. "Nem que seja necessário adotar medidas drásticas, como fechar temporariamente as indústrias", informa.
CustoO governo chinês reconheceu no mês passado que 60% das cidades do país sofrem regularmente com a poluição do ar e não têm tratamento adequado de esgoto. Além disso, 16 das 20 cidades mais poluídas do mundo são chinesas, segundo o Banco Mundial. O organismo internacional inclusive publicou, em março, um relatório intitulado "O Custo da Poluição na China", informando que os altos níveis de poluição do ar na China provocariam entre 350 mil e 400 mil mortes prematuras ao ano.
Outras 300 mil mortes prematuras anuais seriam provocadas pela má qualidade do ar em ambientes fechados, enquanto que doenças como diarréia e cânceres provocados pela má qualidade da água, principalmente nas áreas rurais, provocariam a morte de cerca de 60 mil pessoas ao ano. Segundo denúncias do jornal inglês Financial Times, a versão final do documento teria sofrido cortes pela censura chinesa. Mesmo assim, o informe preliminar já dizia que o custo total da poluição para o país representa cerca de 5,8% do Produto Interno Bruto da China. Além da sua imagem arranhada.
(Por Juliana Vale,
BBC, 08/08/2007)