A Doença do Caranguejo Letárgico (DCL), classificada como uma tragédia sócio-ambiental, será estudada mais a fundo pelos especialistas do Estado. Depois do Seminário SOS Uçá, o próximo passo diz respeito à avaliação da qualidade ambiental dos manguezais, assim como a identificação de hospedeiros, possíveis rotas e vetores de propagação da doença.
A intenção do Grupo Gestor do Caranguejo é incentivar os estudos da DCL em todos os seus aspectos, inclusive a identificação e isolamento do patógeno causador da doença. O objetivo é também valorizar os indíviduos resistentes na população afetada, demonstrando, assim, a importância do caranguejo sobrevivente para o futuro do manguezal.
As pesquisas pretendem viabilizar medidas de enfrentamento para as conseqüências da doença, do repovoamento do manguezal, apoio às comunidades, e a criação de uma proposta de lei que proíba a importação de caranguejo de outros estados para o Espírito Santo.
Os especialistas vão propor ainda a proibição da compra de caranguejos de outros estados para o Espírito Santo e a inclusão de condicionantes para empreendimentos localizados em áreas de populações tradicionais e que estas condicionantes sejam elaboradas junto as comunidades.
A DCL tem privado muitas famílias de sua principal fonte de renda e ameaçado o modo de vida tradicional de dezenas de comunidades, mas também gera desequilibro em todo o ecossistema. O caranguejo tem importante função de promover a renovação nos nutrientes e a circulação das águas - por meio dos buracos que cavam no mangue -, bem como faz parte da cadeia alimentar de outras espécies.
No Espírito Santo existem 872 catadores de caranguejo registrados e que antes da chegada da DCL movimentavam uma economia de R$ 55 milhões/ano, empregando cerca de 5 mil pessoas (dados Grupo Gestor do Caranguejo 2006).
Neste contexto, a intenção dos especialistas do Grupo Gestor do Caranguejo é fortalecer também as associações de catadores nas comunidades, através de maior integração e articulação interinstitucional que dê direito a estas comunidades ao auxílio defeso e auxilio andada em todos os municípios do Estado.
Segundo as informações do Grupo Gestor do Caranguejo, já não é mais comum encontrar caranguejos adultos nos mangues da Grande Vitória. A DCL e a grande exploração da espécie tiraram a capacidade de suporte dos crustáceos. Entretanto, não há risco de extinção, já que o caranguejo utiliza a estratégia de começar a se reproduzir cada vez menores. Funciona como uma espécie de defesa contra a própria cata, mas não leva à extinção.
Com a doença, a escassez da espécie aumentou e esta é uma forma de se proteger da exploração das espécies que restaram. No Brasil, a DCL já causa efeitos ambientais e sociais há mais de 2 anos. A doença chegou ao Espírito Santo em meados de julho de 2005.
A Síndrome ou Doença do Caranguejo Letárgico afeta o caranguejo-uçá (Ucides cordatus), o mais consumido, e leva o animal contaminado à morte em 12 horas. O animal contaminado não reage a estímulos e não resiste à manipulação. A doença é causada pelo fungo do filo Ascomycota, subfilo Pezizomycotina, como aponta um grupo de pesquisadores do Paraná.
(Por Flávia Bernardes,
Século Diário, 07/08/2007)