O diretor interino do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf), José Luis Demoner, se reuniu nesta terça-feira (7) com representantes da Brigada Indígena e com o presidente do Conselho Estadual dos Direitos Humanos, Isaías Santana, para discutir a demora na divulgação do mapa de terras devolutas no Estado. Isaías compareceu à reunião representando as comunidades quilombolas.
A reunião foi marcada nesta segunda-feira (6) depois que uma manifestação da Brigada Indígena cobrou do secretário de Agricultura, César Colnago, uma posição sobre a demora nas informações. Sem o mapa das terras devolutas, o processo de titulação dos territórios quilombolas do norte capixaba fica difícil. A falta dos dados é um dos impedimentos para que o Incra conclua o processo de Linharinho, por exemplo.
Os quilombolas não puderam comparecer à reunião, mas já haviam denunciado a demora. Eles estão retomando parte do território de Linharinho, em Conceição da Barra, ocupado e explorado pela Aracruz Celulose há 40 anos. A retomada da área ocorreu no último dia 23, e estão no local cerca de 500 descendentes dos escravos negros.
As informações também já foram cobradas pelo próprio Incra. Para os quilombolas, a postura do Idaf é adotada de propósito e visa a facilitar a Aracruz Celulose, "uma vez que muitas terras devolutas possam estar nas mãos da Aracruz Celulose. Como a empresa foi a principal financiadora da campanha do governador Paulo Hartung, isso poderia ser uma troca de favores".
De fato a Aracruz Celulose contribuiu para a eleição de Paulo Hartung nas duas eleições para governador. Na prestação de contas da eleição que o conduziu ao governo do Estado em 2002, Paulo Hartung informou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que a Aracruz Celulose doou à sua campanha R$ 500 mil.
Foi o maior apoio oferecido pela empresa a um político no Espírito Santo naquelas eleições, como destacou na ocasião a Rede Alerta Contra o Deserto Verde. Naquelas eleições, a Aracruz Celulose doou R$ 4.779.762,63 para políticos em todo o País.
Para a campanha que o reconduziu ao governo do Estado, Paulo Hartung recebeu R$ 200 mil da Aracruz Celulose. A doação é legal, mas imoral como apontam os críticos do financiamento das campanhas eleitorais. Pois gera débitos morais como o de proteger os interesses das empresas, mesmo que elas degradem o Estado, como a Aracruz Celulose.
Na retomada do quilombo de Linharinho os descendentes de escravos negros contam com apoio de militantes do MST, MPA e entidades ligadas à Rede Alerta contra o Deserto Verde.
Até o fechamento desta edição, nenhum resultado sobre a reunião havia sido divulgado.
(Por Flávia Bernardes,
Século Diário, 07/08/2007)