O manejo do pirarucu - considerado o maior peixe de água doce do planeta - traz benefícios aos ecossistemas aquáticos e às comunidades ribeirinhas.
Cerca de uma tonelada de pirarucu - o maior peixe de água doce do planeta - será pescada no Lago Santo Antônio, Município de Manoel Urbano (AC), entre os dias 7 e 10 de agosto. A despesca, como o processo está sendo chamado, marca o sucesso de três anos de manejo comunitário do pirarucu, que vinha desaparecendo dos lagos da região, habitada por centenas de famílias que depende da pesca para sobreviver.
A despesca e a Feira do Pirarucu fazem parte do Projeto Alto Purus, realizado em conjunto por WWF-Brasil, Secretaria de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar (Seaprof) e as Colônias de Pescadores de Manuel Urbano e Sena Madureira, desde 2003. A iniciativa capacitou pescadores locais para implementar acordos de pesca na região, que consistem na criação de normas para regular a atividade, sua sustentabilidade e a reposição das espécies.
O Projeto Alto Purus trabalha em uma área de aproximadamente 200 mil hectares. Em três anos de atividades, comunidades pesqueiras instaladas nos municípios de Sena Madureira e Manoel Urbano estabeleceram acordos de pesca - homologados pelo Ibama e, portanto, com força de lei - para seis lagos. Com os acordos, os pescadores têm relatado que quantidade e qualidade do peixe melhoraram, assim como o cumprimento das regras dos acordos.
No Lago Santo Antônio os pescadores decidiram em conjunto, em 2004, proibir temporariamente a pesca do pirarucu, pois a espécie estava ameaçada pela pesca excessiva. Os resultados foram rápidos. Em março de 2005, havia 56 peixes. Pouco mais de dois anos depois, em maio de 2007, o número era de 187.
Houve também uma clara melhora na proporção entre pirarucus jovens e adultos, que saltou de 0,43 para 1,10 durante o período, demonstrando o sucesso do manejo. Este indicador mostra que existem mais jovens do que adultos, garantindo novos indivíduos para os estoques da espécie.
Antonio Oviedo, técnico do WWF-Brasil, destaca que os acordos de pesca contribuem não só para o incremento da renda de comunidades que vivem da pesca. “O pirarucu é um importante indicador do grau de conservação dos ecossistemas aquáticos. Se a pesca é realizada de forma predatória ou a vegetação ao redor do lago está degradada, ele tende a abandonar o ambiente. O manejo adequado cria as condições para que a espécie permaneça no lago”, avalia.
Os pescadores do Lago Santo Antônio decidiram que, entre 6 e 10 de agosto serão pescados 26 pirarucus adultos. Isso deve corresponder a uma tonelada do pescado, com potencial de gerar para a comunidade aproximadamente R$ 6 mil reais. Além da despesca, também serão retirados casais de pirarucus para o repovoamento dos lagos Santarém e Bananal no município de Manuel Urbano. “O manejo do pirarucu é especialmente compensador para os pescadores, pois a espécie é sedentária. Se o lago apresentar boas condições de conservação, os pirarucus permanecem nos lagos. Assim, com o crescimento da população, os benefícios são usufruídos pelas famílias que habitam os lagos manejados”, explica o técnico do WWF-Brasil.
Antonio Oviedo destaca que, para dar mais visibilidade à atividade de manejo na região e também atrair mais parceiros para as iniciativas do Projeto Alto Purus, os pescadores decidiram organizar a despesca e, posteriormente, a feira do Pirarucu manejado no Acre, entre os dias 15 e 19 de agosto. Durante a feira serão feitas exposições dos trabalhos de manejo, comercialização e degustação de pratos feitos com pirarucu. Ainda no dia 17 será realizado o I Seminário de Pesca do estado para discutir as possibilidades de expansão desta experiência para outras regiões do estado.
(Por Bruno Taitson,
WWF International, 07/08/2007)