A Associação dos Produtores e Coletores de Castanha de Amaturá (Aprocam), a 910 quilômetros de Manaus, pagou este ano R$ 12 por lata de 20 litros de castanha do Brasil. Se o produtor fosse vender ao atravessador esse preço cairia para R$ 5, ou seja, ele receberia apenas 42% do valor de hoje. Juntar os produtores numa associação foi um trabalho do Programa de Organização Produtiva de Comunidades (Produzir), do Ministério da Integração Nacional, que acaba de ser reconhecido pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) como "um projeto modelo e exemplo de sucesso".
A maioria dos habitantes de Amaturá pratica a agricultura familiar: mandioca, feijão, milho, banana e também coleta castanha. Uma característica do município é que grande parte dos castanhais não são nativos, mas foram cultivados pelos antepassados. Até cinco anos atrás os agricultores estavam dispersos, cada qual cuidando da própria vida.
Em 2003 o Produzir identificou na sede municipal e nas comunidades 102 pessoas interessadas no trabalho associativo. Hoje, já são 200 os membros da Aprocam. Cada um ganha de acordo com sua produção. O patrimônio da associação, formado por usinas, máquinas e equipamentos gira em torno de R$ 500 mil.
Em 2006 a Aprocam produziu 52 toneladas de castanha, que foram vendidas para uma empresa de alimentação de Minas Gerais ao preço de R$ 130 mil. Da safra deste ano a associação está beneficiando 80 toneladas, que depois de secas resultarão em aproximadamente 60 toneladas, e espera melhor preço que no ano anterior, diz o presidente da Aprocam, Ivo Gonçalo dos Santos, 55.
Empresas da China e Japão estão interessadas na castanha, mas falta a certificação e equipamentos para pesar e embalar o produto a vácuo. A aceitação do mercado indica que a associação precisa expandir suas instalações: aumentar a capacidade do secador de uma tonelada para dez toneladas, assim como ampliar os depósitos, entre outras necessidades. Esse projeto está em torno de R$ 300 mil, dinheiro que pode vir do Banco Mundial, espera Santos.
AprendizadoMesmo sendo coletores tradicionais de castanha, os amaturenses precisaram aprender novas formas de trabalhar - chamadas de "boas práticas" -, que começam na coleta e vão garantir a qualidade do produto. Os ouriços caídos nos pés das castanheiras precisam ser coletados de dois em dois dias. Se não puderem ser levados logo para a usina, devem ser colocados num jirau (assoalho alto) com a abertura do ouriço virada para baixo. Uma semana depois deveriam ser quebrados para seleção e lavagem das sementes, que em seguida entram no processo de secagem. Primeiro no secador solar e depois no giratório, a lenha.
Os produtores aprenderam que as castanhas que ficam no chão por mais de dois dias podem ser contaminadas por fungo. A consultora do Produzir, Mira Suelen Batista, menciona a aflotoxina que torna a castanha imprópria para o consumo. Com boas práticas de manejo o problema é eliminado.
Para garantir o capital de giro, com o qual compra a castanha dos produtores, a Aprocam faz uma espécie de empréstimo na Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), no programa de compra antecipada. Quando vende a castanha, paga a dívida e se habilita para o próximo empréstimo na safra seguinte.
(Por Terezinha Patrícia,
A Crítica, 07/08/2007)