Uma cúpula sobre clima convocada pelos Estados Unidos para setembro já levanta dúvidas sobre a possibilidade de alguma medida ser tomada antes de o presidente norte-americano, George W. Bush, concluir o mandato dele, no próximo ano. Um grande ponto de interrogação paira sobre a questão de o que substituirá o Protocolo de Kyoto quando esse acordo, que limita a emissão de gases do efeito estufa, deixar de vigorar, em 2012. Os EUA nunca participaram do pacto de Kyoto, cujos custos econômicos, segundo Bush, tornavam-no "falho em sua essência".
Mas o presidente norte-americano passou, recentemente, a dar declarações sobre a necessidade de uma nova estratégia mundial para conter as emissões de gases responsáveis pelo aquecimento da Terra. Em maio, Bush anunciou planos de concluir a elaboração dessa estratégia até o final de 2008, mas especialistas logo notaram a proximidade entre a data e o final do mandato dele. Na sexta-feira, o governo dos EUA convocou os maiores emissores de gases do efeito estufa para um encontro como parte de uma estratégia capaz de envolver os países em desenvolvimento nos esforços para cortar a emissão de poluentes. A reunião deve acontecer nos dias 27 e 28 de setembro, em Washington.
Mas, mesmo antes desse anúncio, os participantes da primeira sessão plena da ONU - Organização das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas, na semana passada, questionaram o papel desempenhado pelos EUA no debate. "A constante desculpa oferecida pelos EUA para não participar do regime mundial de combate às mudanças climáticas, culpando a Índia e a China, não é apenas infeliz, mas muito distante da verdade", afirmou Sunita Narain, diretora do Centro para a Ciência e o Meio Ambiente da Índia.
Grandes poluidoresA China e a Índia, países em franca expansão, não possuem atualmente limites de emissão a serem observados. Mas Narain afirmou que as emissões realizadas pelos países industrializados ao longo das décadas passadas mais do que compensavam pelas emissões cada vez maiores dos dois países asiáticos.
Como exemplo, Narain afirmou que a emissão anual de carbono per capita da China soma 3,5 toneladas. Nos EUA, essa cifra é de 20 toneladas. O dióxido de carbono integra a lista de gases capazes de prender o calor dentro da atmosfera terrestre, aquecendo o planeta. O governo Bush passou de uma postura na qual questionava a contribuição das atividades humanas às mudanças climáticas para uma postura na qual aceita trabalhar com outros países a fim de fixar metas globais.
Os EUA, no entanto, rejeitam a imposição de limites compulsórios de emissão e querem a adoção voluntária de metas. O encontro a ser realizado em Washington deve acontecer na mesma semana em que líderes do mundo todo se reúnem na ONU para participar, entre outros eventos, de uma sessão de um dia voltada para as mudanças climáticas (no dia 24 de setembro). A lista dos participantes da conferência de Washington inclui Brasil, Grã-Bretanha, França, Alemanha, Itália, Japão, China, Canadá, Índia, Coréia do Sul, México, Rússia, Austrália, Indonésia e África do Sul.
No convite, Bush diz que os EUA trabalharão com esses países na criação de um "novo regime global" capaz de permitir a assinatura, até 2009, de um acordo dentro da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas. A afirmativa da Casa Branca de que o encontro de setembro servirá de largada para um processo previsto para concluir-se em 2008 "pode dar a impressão, a outros países, de que o governo (norte-americano) está tentando gastar tempo", afirmou Annie Petsonk, do grupo Enviromental Defense.
(Estadão Online/
Ambiente Brasil, 08/08/2007)