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biocombustíveis etanol
2007-08-08

O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva colocou o México em sua estratégia para promover a produção de etanol na região. Durante uma visita de pouco mais de um dia a este país, o mandatário brasileiro e seu colega mexicano, o conservador Felipe Calderón, assinaram acordos de cooperação em matéria de biocombustíveis e exploração de petróleo. Ao falar na VII Reunião Plenária do Comitê Empresarial México-Brasil, o Presidente Lula disse que o Brasil “está pronto para cooperar com o México no desenvolvimento de biocombustíveis, seja etanol derivado da cana-de-açúcar ou biodiesel, que pode ser extraído de uma grande variedade de sementes e oleaginosas”.

Calderón reconheceu que se abrem em seu país oportunidades de “aprender e aproveitar o mercado e a tecnologia de biocombustivies, uma fonte de energia limpa”. Também mencionou os agronegócios e as obras de infra-estrutura como outros exemplos de áreas “onde juntos seremos muito mais competitivos”. O México está atrasado em relação ao Brasil na produção de etanol a partir da cana: refina atualmente apenas 56 milhões de litros e importa 164 milhões, que utiliza apenas como componente alcoólico. Somente em dois anos contaria com duas refinarias apropriadas para destilar o combustível.

Por sua vez, o Brasil elaborou em 2006 mais de 17 bilhões de litros e estima-se que chegará a 36 bilhões em 2012, graças à construção de 400 destilarias. Em 2025, produziria 205 bilhões de litros. “Queremos contar com o apoio do México para estabelecer um mercado mundial para os combustíveis limpos, baratos e renováveis. Combustíveis que podem criar empregos e gerar renda, sobretudo no campo e para as populações mais pobres, sem comprometer a segurança alimentar de nossos países’, disse Lula.

O Brasil também está interessado em aprofundar a aliança estratégica da Petrobras com a Petróleos Mexicanos (Pemex), que enfrenta a ameaça de uma queda em sua produção: suas reservas provadas chegam a cerca de 15 bilhões de barris, equivalentes a nove anos de consumo nos níveis atuais. A Petrobras, principal empresa brasileira e uma das oito maiores do setor do petróleo no mundo, e a Pemex, que se encontra na décima-segunda posição, contam com um acordo estratégico para a exploração de poços submarinos. A estatal mexicana carece da tecnologia necessária, que o Brasil possui.

“Em matéria de energia há um amplo campo para a cooperação. Petrobras e Pemex ocupam posições destacadas no cenário internacional, têm grande capacidade de conhecimento técnico e podem desenvolver mais ações conjuntas”, afirmou Lula. Mas, a oposição mexicana já externou sua rejeição a esses planos. O líder da esquerda, Manuel López Obrador, do Partido da Revolução Democrática (PRD), disse no domingo que “não queremos que se utilize o Brasil e a Petrobras como ponta-de-lança para privatizar a Pemex”. Obrador acrescentou que respeita o Presidente Lula, “mas o movimento que representa, uma oposição real, verdadeira, não aceita que se entregue a riqueza petrolífera mexicana a estrangeiros, sob nenhuma modalidade”.

O líder do PRD perdeu as eleições presidenciais de julho de 2006 para Calderón, do Partido Ação Nacional, por 230 mil votos e denunciou fraude. Se auto-qualifica como “presidente legitimo” e nega-se a reconhecer o governo de Calderón. Para o segundo semestre deste ano se prevê que o Congresso discuta uma possível reforma energética no México, cujo ponto central seria a abertura da Pemex à entrada de capital privado, sem sacrificar a direção do Estado.

Esta é a quinta reunião entre Lula e Calderón, sendo que a primeira foi em outubro passado, quando o então presidente eleito do México visitou o Brasil. Posteriormente, encontraram-se no Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, em janeiro; na Cúpula do Grupo do Rio, na Guiana, em março, e na reunião do Grupo dos Oito países mais poderosos, na Alemanha, em junho passado. A visita do mandatário brasileiro também serviu para aparar arestas entre os dois países surgidas por diferenças sobre as formas de fazer política na região e dos esquemas de integração no continente.

Em Davos, Calderón criticou os “pré-julgamentos” que impedira formar a Área de Livre Comércio das Américas defendida pelos Estados Unidos, as estatizações de empresas em paises como Bolívia e Venezuela e as “ditaduras vitalícias”. Analistas políticos disseram que se tratava de uma alusão ao presidente venezuelano, Hugo Chávez, que exerce a presidência desde 1999 e aspira obter o direito à reeleição indefinida. Lula, por sua vez, disse que chaves foi reeleito democraticamente em três ocasiões e que a Bolívia nacionalizou o gás porque essa é sua única riqueza.

Brasil e México mantêm uma surda competição em diversas áreas. Por exemplo, ambos aspiram um lugar permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas. Brasília parece estar um passo em vantagem. Nas complexas negociações da Rodada de Doha, da Organização Mundial do Comércio, que buscam liberalizar o intercâmbio de bens e serviços, o Brasil se colocou junto com a Índia à frente de um grupo de países em desenvolvimento que reclama a solução do maior obstáculo: os subsídios que Estados Unidos, União Européia e Japão concedem aos seus produtores agrícolas. Além disso, o Brasil se converteu em julho em sócio estratégico da UE, uma condição compartilhada apenas com China, Estados Unidos e Índia.

Segundo a Comissão Economia para a América Latina e o Caribe (Cepal), a economia mexicana crescerá 3,2% em 2007, frente à projeção de uma alta de 4,5% no produto interno bruto do Brasil. “Ficaremos atrasados em relação aos brasileiros”, escreveu Enrique Quintana, colunista do jornal Reforma, da capital mexicana. A balança comercial também favorece o Brasil, segundo o Ministério do Desenvolvimento desse país. As exportações brasileiras totalizaram US$ 5,552 bilhões em 2006, enquanto as venda mexicanas somaram US$ 1,147 bilhão. Estima-se que, como conseqüência dos acordos assinados pelos presidentes Lula e Calderón, o intercâmbio chegará a US$ 13,400 bilhões em 2010.

O possível ingresso do México no Mercosul, cujos sócios fundadores são Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, também foi tema de discussão durante a visita do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Sei que é intenção do presidente Calderón observar um pouco a América do Sul, olhar também o Mercosul e decidir que estratégia vai adotar com outros países sul-americanos, em conjunto com o Mercosul, em conjunto com o Brasil, para que possamos começar a sonhar com um processo de integração mais forte em toda a América Latina”, afirmou o mandatário brasileiro.

Foi a segunda vez em menos de uma semana que Lula convida o México a aproximar-se do Mercosul. O presidente da Argentina, Nestor Kirchner, fez na semana passada uma sugestão semelhante durante sua viagem de três dias ao México, onde assinou um acordo de cooperação estratégica, após um período de esfriamento das relações pelas diferenças entre o mandatário argentino e o antecessor de Calderón,Vicente Fox (2000-2006) sobre a congelada Alca. Alguns analistas diplomáticos disseram que luta também pretendeu, com sua visita ao México, não perder terreno diante de seu colega argentino.
(Por Emilio Godoy, IPS, 07/08/2007)

 


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