Um sedã preto com vidros escuros segue Xu Jieha quando ela percorre de moto sua aldeia às margens do lago Tai, o terceiro maior da China. Um policial passa o dia todo ao lado da porta dos fundos de sua casa, e outro, da porta da frente. A situação está assim desde abril, quando foi preso seu marido, Wu Lihong, um dos ativistas ambientais mais conhecidos do país. Wu está detido numa delegacia policial, onde sua família, que nega as acusações contra ele, não tem autorização para vê-lo e onde seu advogado diz que ele foi torturado.
"Meu marido usou todas as economias da família para tentar salvar o lago, mas as pessoas não param de atacá-lo. Desde sua prisão, moradores locais dizem que as companhias químicas não têm mais o que temer", disse Xu ao "Financial Times". O caso é emblemático da atitude confusa da China quando se trata de resolver seus problemas ambientais. Por mais de uma década, Wu, 40, foi saudado pela liderança chinesa por seu combate à poluição resultante da indústria química.
Para sua família, seus problemas começaram quando ele passou a protestar contra o fato de Yixing, a cidade mais próxima à aldeia de Fenshui, ser nomeada "cidade modelo" -o que as autoridades locais esperavam usar para mostrar controle da poluição. Wu foi preso uma semana antes de uma viagem a Pequim em que protestaria contra o prêmio, acusado de tentar extorquir US$ 6.000 de empresas locais com a ameaça de expor suas atividades.
"Está ocorrendo uma repressão crescente a ativistas, sobretudo aos de base", disse Mark Allison, pesquisador sobre a China na Anistia Internacional. Vários ativistas e advogados já foram presos ou postos em prisão domiciliar no último ano. A polícia se recusou a comentar o caso, que deveria ter sido julgado em junho mas foi adiado após a acusação de tortura. Pequim fez da redução da poluição uma de suas prioridades, e o premiê Wen Jiabao encomendou uma investigação sobre a contaminação do lago Tai. Mas o governo ainda se sente incomodado com os ativistas.
Desde a prisão de Wu, a poluição do lago piorou. Em junho as autoridades suspenderam o fornecimento de água a 2 milhões de pessoas devido à infestação de algas azuladas gerada pelos dejetos das fábricas. Foi a poluição do lago que atraiu Wu para a causa. Ele e sua mulher costumavam nadar ali quando crianças. Quando as usinas químicas começaram a poluir o lago, Wu passou a enviar relatos anônimos às autoridades da Província. Em 1998, ele ajudou uma equipe de TV a produzir um documentário. "Nos últimos dez anos nossa família não tem podido viver em paz", diz Xu, 39. Na casa do casal, há várias fotos de Wu, incluindo uma de 2005, em Pequim, quando ele foi saudado como um dos dez maiores ambientalistas da China.
(Por Geoff Dyer,
Folha de S.Paulo, 07/08/2007)