A prática dos veículos de comunicação no Espírito Santo de manipular a informação para favorecer a transnacional Aracruz Celulose, prejudicando quilombolas e índios, foi condenada pelos participantes do Congresso Nacional Extraordinário dos Jornalistas. O congresso foi realizado em Vitória no último final de semana.
Quilombolas e índios estão lutando para retomar terras que a Aracruz Celulose tomou à força, ou comprou a preços vis, em plena ditadura militar, há 40 anos. Dos descendentes dos negros a empresa tomou a maior parte dos 50 mil hectares que os quilombolas perderam.
Dos índios, a Aracruz Celulose tomou 40 mil hectares, dos quais o próprio governo federal reconhece que são terras indígenas 18.070 hectares. Ato inconstitucional do governo Fernando Henrique Cardoso permitiu que a Aracruz Celulose mantivesse em seu poder 11.009 hectares de terras indígenas. O governo Lula ainda não devolveu as terras aos índios.
A Aracruz Celulose também tomou terras dos pequenos agricultores, e destruiu 50 mil hectares da mata atlântica e toda a sua biodiversidade. Seus eucaliptais destroem a água e os agrotóxicos usados pela empresa contaminam os poucos quilombolas que conseguiram resistir em suas propriedades.
Mesmo assim, a Aracruz Celulose é tratada pelas redes Gazeta e Tribuna e e por outros veículos de comunicação do Espírito Santo como uma empresa sustentável.
O protesto dos jornalistas brasileiros a esta cobertura veio na forma de uma moção de repúdio.
A moção foi divulgada pelo Sindicato dos Jornalistas e tem os seguintes termos: "Nós, profissionais da imprensa de todo o Brasil, participantes do Congresso Nacional Extraordinário dos Jornalistas, realizado de 03 a 05 de agosto de 2007, manifestamos nossa indignação e repúdio à manipulação da notícia pelos maiores veículos de comunicação no Estado do Espírito Santo, no trato dos conflitos de terras envolvendo a empresa Aracruz Celulose e as comunidades indígenas e quilombolas no Norte capixaba.
Adotando uma posição nitidamente conservadora, os maiores veículos de comunicação estão orientando e manipulando o trabalho de profissionais jornalistas, apresentando apenas a versão latifundiária dos fatos.
Essa constatação ocorre exatamente no momento em que nós discutimos e aprovamos um novo Código de Ética para nossa categoria profissional neste Congresso Nacional. Por isso denunciamos que esse comportamento manipulador, pela parte maior da imprensa local, compromete a perspectiva de "olho da nação", pois, nega espaços em suas matérias para livre manifestação das famílias que lutam pela devolução das terras violentamente expropriadas pelo grande capital. Uma situação reconhecida pelas instâncias do Estado Brasileiro com competência constitucional para a solução de tais conflitos. Defendemos a liberdade de imprensa, uma conquista que não pode ser ameaçada pela ânsia por gordos lucros, auferidos a partir dos volumosos anúncios publicitários da grande indústria de celulose em nosso país".
A moção, apresentada pela delegação do Espírito Santo, foi aprovada à unanimidade.
(Por Ubervalter Coimbra,
Século Diário, 07/08/2007)