Os presidentes da Argentina, Néstor Kirchner, e da Venezuela, Hugo Chávez, anunciaram ontem (6/08) em Buenos Aires um "acordo de segurança energética" que tem como principal ponto a construção, com financiamento venezuelano, de uma usina para reprocessamento de gás na Argentina, que permitirá ao país importar GLP (gás liqüefeito de petróleo) da Venezuela e tornar-se menos dependente de gasodutos.
No ato na Casa Rosada, Chávez disse que "até as pedras sabem" que a primeira-dama argentina, Cristina Fernández de Kirchner, será presidente. "Como dizem até as pedras, Cristina Kirchner será a próxima presidente dos argentinos e das argentinas. Conte desde já com esse mesmo esforço, ainda maior, para seguir impulsionando essa época nova do nosso continente", disse Chávez.
A primeira-dama não falou. Kirchner, porém, deu sinais de que espera que a estreita relação com a Venezuela que criou no seu governo seja mantida. "Estou seguro de que vai se aprofundar ainda mais o intercâmbio bilateral entre Argentina e Venezuela quando Cristina estiver na Presidência." O que se viu no ato contraria a versão que kirchneristas ventilaram nos últimos dias, de que em um governo Cristina haveria um distanciamento de Chávez. A própria primeira-dama, embora tenha defendido o venezuelano de críticas, fez, em uma entrevista publicada anteontem, ressalvas a seu estilo -disse que sua "gestualidade" não ajuda a imagem da democracia venezuelana no mundo.
Ontem, porém, ela esteve sentada na primeira fila no ato em que Chávez e seu marido discursaram. Foi filmada mais de uma vez sorrindo enquanto o venezuelano falava. Depois, participou com Kirchner de um jantar com Chávez na residência presidencial de Olivos. A construção da usina de processamento de gás anunciada ontem levará dois anos e custará US$ 400 milhões. Sua capacidade de produção, de 10 milhões de metros cúbicos diários, equivale a cerca de 10% da demanda argentina.
Embora negue que seu país passe por uma crise energética -ontem voltou a dizer que os problemas de abastecimento se devem à "tensão do crescimento"-, Kirchner agradeceu "a ajuda permanente da Venezuela no setor energético". Chávez, por sua vez, se disse "preocupado" com a situação argentina. "Quando você sabe o que está crescendo a Argentina e das necessidades de energia que existem no cone Sul, você se preocupa com essa situação", afirmou.
Os presidentes também assinaram um acordo já previsto, pelo qual a Venezuela investirá US$ 1 bilhão em títulos da dívida argentina. Os primeiros US$ 500 milhões formarão parte da nova emissão do bônus do Sul, título conjunto dos dois países.
Nos discursos, Chávez e Kirchner não falaram da operação. Na sua chegada à Argentina, porém, Chávez disse que a compra de títulos argentinos pela Venezuela, que já soma US$ 5,2 bilhões no governo Kirchner, mostra que "já não precisamos dos organismos financeiros internacionais na América do Sul".
(Por Rodrigo Rötzsch,
Folha de S.Paulo, 07/08/2007)