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2007-08-07
Não, não é só impressão sua: o inverno gaúcho deste ano realmente está com a cara de antigamente. E bota antigo nisso: desde 1961, quando se iniciaram as estatísticas do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (Cptec/Inpe), não se registravam tantos dias seguidos de frio no Rio Grande do Sul.

Os especialistas são cautelosos em afirmar que se trata do inverno mais rigoroso dos últimos 46 anos porque as temperaturas mínimas de 2007 não são as mais baixas do período. Mas a análise dos dados disponíveis mostra que nunca a temperatura máxima esteve tão baixa, um fenômeno causado pela persistência do frio por dias a fio. A decadência das máximas previstas para o período é tanta que os meteorologistas do Cptec/Inpe terão de refazer seus gráficos, programados para marcar como 18°C a temperatura máxima média para o Estado durante o inverno. Desde o início da estação, o índice não passa de 13°C em boa parte das regiões.

- Este ano foi extremamente anômalo. As mínimas não caíram tanto, mas as máximas despencaram. É um inverno dos mais frios até agora, mas ainda não acabou - analisa o meteorologista José Fernando Pesquero, do Grupo de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Cptec/Inpe.

Segundo dados da Central de Meteorologia, baseados em uma amostra de nove cidades de diferentes regiões, em julho deste ano o Estado teve de três a quatro vezes mais dias com 5°C ou menos do que em 2006. Uma das particularidades de 2007 é que a queda nos termômetros se antecipou até mesmo ao inverno, com o avanço de massas de ar frio desde o outono. Em Porto Alegre, entre abril e julho, houve 150% a mais de dias com temperatura igual ou abaixo de 5°C em relação aos dois anos anteriores. Em Caxias, a quantidade de dias com essas características cresceu 200% em relação ao ano passado e, em Bagé, 144%.

- Em 2007 estamos tendo a permanência das massas de ar frio por mais tempo. Antes, elas cruzavam mais rapidamente pelo Estado - explica o meteorologista Leandro Puchalski, da Central de Meteorologia.

Há divergências sobre causas das mudanças no clima

Segundo Puchalski, a continuidade da baixa temperatura está relacionada com a trajetória das massas de ar frio, que neste ano têm se deslocado mais sobre o continente do que sobre o oceano. Mas as causas da mudança ainda são estudadas pelos especialistas. Para o meteorologista, o fenômeno conhecido como La Niña pode estar relacionado com a maior intensidade do frio, ao provocar o resfriamento das águas do Oceano Pacífico na linha do Equador e interferir na composição dos ventos.

- É difícil analisar as causas, porque um fenômeno em escala global altera o comportamento do tempo. Mas o La Niña pode ser um dos motivos - diz Puchalski.

Profissionais da área divergem. Para o meteorologista Solismar Damé Prestes, coordenador do 8º Distrito de Meteorologia, o inverno deste ano nada mais seria do que um inverno típico.

- É normal nesse período fazer frio, a gente é que estava desacostumado porque passamos invernos com temperaturas mais altas. Diziam que andava quente por causa do aquecimento global, mas se fosse assim não teríamos mais frio. O aquecimento global é um processo que leva muitos anos, não é tão perceptível - avalia.

Em busca de respostas, analistas do Cptec/Inpe farão uma reunião para analisar o comportamento do tempo.

- Alguma coisa que acontece em algum lugar do planeta afeta os sistemas daqui. Mas é preciso fazer uma correlação com dados de todo o mundo para saber a causa - diz Pesquero.

(Zero Hora, 07/08/2007)


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