Com referência ao texto assinado pelo professor Nagib Nassar (UnB), publicado pelo Globo Online e intitulado "Peru dá exemplo ao Brasil nos transgênicos" , gostaria de esclarecer e corrigir alguns pontos:
1 - Como pesquisadora, não poderia deixar de ressaltar o fato de que o Brasil tem uma das melhores e mais rigorosas Leis de Biossegurança, que inclusive servem de modelo para a redação de legislações em outros países.
Não bastasse isso, contamos com uma Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), responsável e de altíssimo nível, que tem toda a competência para analisar e aprovar os processos enviados àquela entidade, razão pela qual este colegiado foi criado e constituído;
2 - O Brasil é um país privilegiado no que tange à atuação acadêmica e científica de pesquisadores e docentes universitários que atuam na área de Genética Vegetal. Somos filiados a Sociedades Científicas, entre as quais destaco a tradicional Sociedade Brasileira de Genética, que há mais de 50 anos organiza um congresso anual bastante conceituado. Da mesma forma, destaco a Sociedade Brasileira de Melhoramento de Plantas, que agrega os mais conceituados melhoristas do País;
3 - Os geneticistas de plantas brasileiros têm sido responsáveis por inúmeros estudos (básicos e aplicados ao melhoramento) e publicações sobre as espécies vegetais cultivadas em nosso país, assim como têm contribuído para a formação de excelentes profissionais que atuam em ciências agrárias. Estes profissionais, por sua vez, têm atuado em empresas públicas e privadas, visando à liberação de cultivares usados pela indústria de alimentos ou como alimentação direta, humana e animal. Ou seja, o alimento que consumimos, todos os dias, vem desses estudos!
4 - Portanto, são esses geneticistas que podem (e devem) opinar sobre os aspectos científicos relativos à produção e comercialização de produtos transgênicos. A exemplo do que já se definiu para o milho, as zonas de exclusão de plantas transgênicas (ou seja, zonas onde não se recomenda o seu plantio), tendo em vista a preservação de espécies nativas ou naturalizadas de algodoeiros, já foram definidas (ver Barroso e colaboradores, Embrapa, Comunicado Técnico n° 242, 2005);
5 - É fundamental dizer que a CTNBio tem seguido rigorosamente essas recomendações. Quaisquer restrições à comercialização de transgênicos, em razão de sua segurança alimentar ou ambiental, devem se basear estritamente em fatos e estudos de caráter científico, mas jamais em escolhas ideológicas. A ideologia deve ser respeitada, mas não cabe, absolutamente, ao nosso país e à CTNBio, como modelo!
(Por Maria Lúcia Carneiro Vieira,
O Globo, 06/08/2007)