Sentados em carteiras escolares, empresários do setor imobiliário de Manaus tentavam entender como uma área do tamanho de 23 mil campos de futebol na região mais valorizada da cidade vai se transformar em Área de Preservação Ambiental (APA). Na quinta-feira (03/08) foi realizada uma reunião com o empresariado sobre a implantação da APA Tarumã/Ponta Negra. O interesse é justificável: a área é considerada a última fronteira imobiliária da cidade a ser explorada nos próximos 10 anos.
Na prática, a implantação da APA vai tornar mais rígidas as regras de ocupação da região do Tarumã visando à conservação de espécies animais, rios, igarapés e dos resquícios de mata nativa.
De acordo com o Plano Diretor da cidade, de 2002, a APA Tarumã/Ponta Negra tem 22.698 hectares. Situa-se na Zona Oeste de Manaus e engloba áreas heterogêneas, indo da valorizada e relativamente bem preservada Ponta Negra, passando pelas duas margens do igarapé tarumã-Açu, pelo entorno da avenida Torquato Tapajós e incorporando o Parque São Pedro, onde quase não há mais cobertura vegetal.
ImportânciaPreservação de espécies endêmicas e equilíbrio climático são alguns dos benefícios que a implantação da APA Tarumã/Ponta Negra promete. A chefe do núcleo criado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma) para cuidar do assunto, Socorro Monteiro, diz que esta unidade pode contribuir para a manutenção de temperaturas mais amenas. "Em áreas preservadas nós observamos que a sensação climática é bem melhor que naquelas totalmente desmatadas", explica Monteiro.
A bióloga Tânia Sanaiotti, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), diz que a região do Tarumã/Ponta Negra é um dos últimos refúgios do macaco Sauim de Manaus, animal símbolo da cidade. "Além do Saium, a gente tem outras espécies que são típicas dessa região e que estão ameaçadas pela ocupação desordenada", defende.
DiscrepânciasIronicamente, as grandes dimensões da APA Tarumã/Ponta Negra são uma de suas maiores fraquezas. "É uma área muito grande e engloba zonas que simplesmente não se têm mais nada o que proteger", argumenta o arquiteto Roberto Moita, que atua no setor imobiliário, citando como exemplos as invasões Campos Sales e Carbrás. "O que é que existe nessas áreas para ser preservado?", questiona o empresário.
Socorro Monteiro, da Semma, admite que a gestão de uma área tão grande e diversa vai exigir diálogo e vigilância. "Vamos estar em contato direto com as comunidades por meio de conselhos. Todas as decisões referentes à ocupação da área deverão ser definidas previamente", promete.
(Por Leandro Prazeres,
A Crítica, 03/08/2007)