O diretor do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rio Branco, Sebastião Sena, 33, fotografou uma pá-mecânica de propriedade da prefeitura de Tarauacá trabalhando numa propriedade rural no ramal União Floresta, na Estrada Transacreana.
O equipamento foi adquirido por meio do convênio nº 26/2006, firmado com a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) e o Ministério do Desenvolvimento, no valor de R$ 372.932. O dinheiro para a aquisição do equipamento foi liberado no dia 24 de dezembro do ano passado. Mas, apesar de a liberação ter ocorrido na véspera do Natal, os produtores rurais de Tarauacá nunca viram o presente.
Pelo convênio, a pá-mecânica deveria estar sendo utilizada em abertura, recuperação e manutenção de estradas vicinais utilizadas para escoamento da produção agrícola das comunidades rurais, especificamente daquelas não amparadas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
A atenção de Sena para a máquina foi chamada pelo presidente da Associação dos Moradores do Ramal União Floresta, Antonio Carlos. "Vi a máquina no sábado. Segunda-feira fui tirar as fotos, mas o gerente da fazenda nos pôs para correr com um terçado 128", revela. Sena afirma que a máquina da prefeitura de Tarauacá estava construindo açude numa propriedade supostamente pertencente a Laerte Borges, que seria amigo e motorista do prefeito Vando Torquato, quando este viaja a Rio Branco.
"Todos desconfiávamos de que essa era mais uma fazenda do prefeito. Esse fato comprova nossas suspeitas", comentou um parlamentar que pediu para não ser identificado. O Ministério Público Federal foi informado sobre o desvio do equipamento e pediu uma diligência da Polícia Federal até o local indicado pelo sindicalista.
Relatório votado na quarta-feiraNa próxima quarta-feira, os vereadores de Tarauacá votam o relatório da Comissão Especial de Inquérito (CEI) instalada para apurar denúncias de supostos atos de corrupção cometidos pelo prefeito Vando Torquato. No fim de abril, os parlamentares, por unanimidade, decidiram fazer a investigação após ouvirem depoimento do vice-prefeito, César Melo (DEM), que fez sérias acusações contra o chefe do Executivo municipal. Melo declarou que o prefeito teria montado um dos maiores esquemas de corrupção já vistos no Estado do Acre.
Na época, o vice-prefeito afirmou que resolveu denunciar porque não podia continuar se omitindo diante de fatos tão graves. "Eu precisava levar ao conhecimento dos vereadores e da sociedade para não ser conivente", disse. Segundo Melo, Vando Torquato seria o chefe de um esquema de superfaturamento na compra de medicamentos, com empresas de Rio Branco. Nesse esquema, a majoração dos preços seria aberrante e os medicamentos comprados não chegavam ao município.
"As empresas entregam apenas pequenas quantidades e quando querem", afirmou. No depoimento aos prefeitos, Melo disse que procurou o gerente de uma das empresas, de nome Marka Ltda., para pedir esclarecimento, mas ficou surpreso quando foi informado de que o empresário teria financiado a campanha do prefeito e tinha um acordo para fazer daquele jeito. César Melo revelou também que o prefeito orientou seus assessores a fraudarem documentos para receber recursos do Ministério da Saúde.
Havia documentação com nomes de médicos, enfermeiros e agentes de saúde para receber recursos do Programa Saúde da Família, quando nada existia. Nessa denúncia de fraudes de documento, Melo reconheceu que ele próprio pode ser responsabilizado, porque era secretário de Saúde e se omitira. Numa primeira votação, o prefeito foi afastado, mas retornou por força de decisão judicial.
(Por Leonildo Rosas,
Página 20, 03/08/2007)