O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) lançou, no último dia 19, uma pesquisa que mediu a produção municipal de grãos em 2006. Entre os dez municípios com maior renda agrícola estão seis em que o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) já flagrou trabalho análogo à escravidão. Na pesquisa do IBGE são considerados "grãos" os cereais, leguminosas e oleaginosas, tais como soja, milho, arroz, feijão e algodão. A renda obtida pela produção é medida multiplicando-se o preço médio recebido pelo produtor ao longo do ano pela quantidade de grãos produzida.
Os municípios ficam no Mato Grosso, o Estado aparece em segundo colocado no ranking de libertações de trabalho escravo. A liderança absoluta cabe ao Pará.
As fiscalizações ocorridas em Sorriso, Campo Verde, Campo Novo do Parecis e Diamantino aconteceram entre 2000 e 2007, e libertaram, no total, 241 trabalhadores.
Apesar dessas fiscalizações terem ocorrido em várias atividades agrícolas, e não somente no cultivo de grãos, o cruzamento de dados mostra que a riqueza gerada na região nem sempre é revertida em boas condições de trabalho no campo.
O trabalho escravo que também lidera o ranking do IBGE é o estado do Mato Grosso, onde a produção de soja e algodão são expressivas. Para Xavier Plassat, membro da coordenação nacional da Campanha de Combate ao Trabalho Escravo da Comissão Pastoral da Terra (CPT), a imagem de um agronegócio da soja moderno e mecanizado nem sempre corresponde à realidade.
"Esquecemos que antes da colheita e da aplicação dos venenos, antes mesmo do plantio, é preciso preparar o solo. Como muitas vezes se trata de terras onde o Cerrado e a floresta foram arrancados, há necessidade de catar as raízes que sobram. É nessa atividade, que até hoje continua sendo feita à mão, que encontramos com freqüência grandes turmas de trabalhadores aliciados no Piauí, Tocantins ou Maranhão e explorados na Bahia, Mato Grosso, Goiás, ou mesmo no mesmo estado, como acontece no Maranhão, Piauí e Tocantins", explica Xavier.
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24 Horas News, 03/08/2007)