Era para ser uma reunião entre técnicos dos dois países sobre os possíveis impactos em território boliviano das usinas do Rio Madeira, mas quase acabou em uma acalorada contenda política. A reunião aconteceu Quinta-feira (02/08) em São Paulo, a convite do chanceler brasileiro Celso Amorim, em resposta às preocupações manifestadas pela chancelaria boliviana logo após a emissão da licença prévia em em julho deste ano.
O Brasil surpreendeu, ao incluir em sua delegação oficial, além de representantes do Itamaraty, Ibama e Ministério das Minas e Energia, até mesmo técnicos da Odebrecht, a principal empreiteira interessada na obra. A delegação brasileira assumiu logo no início uma estratégia explícita: procurar superar as objeções do país vizinho por meio da oferta de uma usina adicional em território boliviano. Esse investimento, que representaria um custo adicional para o Brasil, seria o preço que nosso governo está disposto a pagar para que o governo de Evo Morales abandone os questionamentos ao projeto. A tentativa de barganha irritou a delegação da Bolívia, composta por oito técnicos e o vice ministro de meio ambiente, Juan Pablo Ramos, que havia se preparado para discutir aspectos puramente técnicos do megaprojeto.
Segundo Juan Carlos Alurralde, assessor da chancelaria boliviana para assuntos de águas internacionais, o Brasil não respondia às dúvidas técnicas apresentadas, se limitando a afirmar categoricamente que não haveria impactos do lado boliviano.
Tal afirmação contrasta com o único parecer técnico até hoje formulado pelos técnicos do IBAMA sobre o projeto, em março deste ano, que atesta, a partir também da falta de consideração pelos impactos no país vizinho, a insuficiência dos estudos até agora realizados. O governo, sucessivamente, tomou uma decisão política de conceder a Licença Prévia, baseando-se em pareceres de consultores particulares externos à administração pública. O presidente interino do IBAMA, Bazileu Alves, participou da reunião de ontem.
Munição fartaOutros estudos de especialistas independentes encomendados pelo Ministério Público de Rondônia e pagos pelo consórcio Furnas/Odebrecht no ano de 2006 dão ainda mais argumentos técnicos à Bolívia, alertando sobre o fato que a área de influência das usinas se estende até a Bolívia.
A reunião de ontem acabou sem qualquer avanço no diálogo: os dois países concordaram apenas sobre o fato que a Bolívia deverá enviar suas dúvidas técnicas por escrito ao Brasil, que responderá dentro de prazos a serem definidos. “Faremos públicas todas as nossas dúvidas, dando mais transparência ao processo de negociação” comentou o vice ministro boliviano Juan Pablo Ramos.
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Amazonia.org.br, 03/08/2007)