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crise da água
2007-08-06
A seca e a má administração do sistema de distribuição de água obrigam a população das duas maiores cidades do Zimbábue a recorrer a medidas desesperadas. As torneiras secaram no Zimbábue apesar de as principais represas da capital estarem hoje com 60% de sua capacidade de armazenamento, segundo dados oficiais. Mais da metade dos três milhões de habitantes de Harare carece de água e apelam para diversas estratégicas para obtê-la. Carregar um grande balde é um trabalho cotidiano para Tedious Marembo, limpador de um edifício do governo que abriga três ministérios e que sempre tem água. Ali enche seu balde e o leva para sua mulher e dois filhos que vivem em Kuwadzana, um bairro do sudoeste da capital.

“Minha mulher tem de caminhar muito para conseguir água, em uma igreja do meu bairro onde foi feita uma perfuração no solo. Ali tem de pagar 50 mil dólares do Zimbábue por balde”, contou Marembo. Essa quantidade equivale e US$ 200, pelo câmbio oficial, mas apenas 36 centavos no mercado negro. “Para ajudar nas tarefas domésticas preciso carregar um recipiente de 20 litros”, acrescentou. Um funcionário do Estado ganha, em média, quatro milhões de dólares do Zimbábue por mês, pouco mais de US$ 22 no mercado negro. Harare sofre cortes de água intermitentes há dois anos por causa da má administração e da idade avançada da infra-estrutura.

A Autoridade Nacional da Água (Zinwa) não faz um bom trabalho, segundo especialistas de uma agência de desenvolvimento escandinava que pediram reserva sobre sua identidade. A situação se deve ao fato de sua administração estar a cargo de figuras políticas designadas pelo ministro do Desenvolvimento de Infra-Estrutura e Recursos Hídricos, Munacho Mutezo, e não nas mãos de profissionais. O sistema de distribuição de água encanada de Harare, construído muito ante da independência em 1980, não teve boa manutenção, segundo estes especialistas. Há bombas de água em zonas muito povoadas com vida útil entre 15 e 20 anos e que nunca foram substituídas desde sua instalação.

O sistema de saneamento tem falhas do mesmo tipo. Um encanamento entupido criou um charco de esgoto ao redor da casa da família Mashapa, também de Kuwadzana, e o fluxo fétido agora se dirige lentamente e sem interrupção para um curso de água próximo. “As crianças estão fechadas em casa. Não podem brincar fora por causa de doenças. Podem contrair cólera”, disse Olívia Mashapa. “Denunciamos a situação à Zinwa e vieram desentupir o cano, mas quando se foram o problema reapareceu. Já não sabemos a quem recorrer”, acrescentou.

Mas outras crianças não estão a salvo do esgoto. Estudantes que devem passar perto da casa dos Mashapa são obrigados a pisar nele, enquanto outras brincam no charco expondo-se a doenças infecciosas. No outro extremo do bairro, o perigo é porque os moradores compram verduras vendidas perto do esgoto a céu aberto. Além disso, muitos banheiros da área estão entupidos e não podem ser usados. “Hoje não vou tomar banho”, disse Memory Mucherahowa. “Caminhei por todo o bairro em busca de água. Às vezes conseguimos no escritório do governo local, mas hoje não nos deixaram entrar, embora continuemos pagando o valor total da conta”, contou este ancião vendedor ambulante. Os poucos afortunados que podem pagar uma academia agora não só praticam exercícios como se banham em suas dependências.

A freqüência dos problemas de distribuição aumentou de forma significativa desde que a gestão do sistema passou do Conselho da Cidade para a Zinwa. Políticos de oposição afirmam que isso se deu mais por questões políticas do que por critérios de gestão. Esse organismo paraestatal carece de recursos, equipamentos e, sobretudo, de experiência para administrar o sistema de distribuição de água encanada da capital, segundo dois informes apresentados por um comitê parlamentar ao plenário da Assembléia (câmara baixa). “A Zinwa insiste em dizer que está capacitada para gerir o sistema de distribuição de água e saneamento nas zonas urbanas do país, mas os governos locais e a população consideram que não tem essa condição”, diz um dos estudos. “O Comitê recomenda que o gabinete reconsidere a decisão, pois a gestão dos serviços da cidade de Harare prova que a Zinwa não está capacitada para o trabalho”, conclui o informe. A IPS não conseguiu declarações da Zinwa.

De todo modo, o governo não levou em conta a sugestão. De fato, o organismo pretende ampliar sua jurisdição a outras localidades, com Bulawayo, a segunda cidade do país e capital da província de Matabeleland Norte, que sofre seca há anos. Ao construir a última das cinco represas em 1979, o Conselho da Cidade cobriu as necessidades dos 250 mil habitantes e das fábricas que tinha nesse momento. Mas agora não são suficientes, pois Bulawayo tem população de 1,5 milhão de pessoas. O rígido racionamento imposto pelas autoridades nos últimos meses não impediu que a escassez de água se convertesse na pior crise da história dessa cidade.

Bulawayo deveria consumir 120 mil metros cúbicos de água por dia, mas conta com apenas 69 mil. Espera-se que essa quantidade caia para 46 mil em outubro, quando as autoridades colocarem fora de serviço a represa de Inyankuni por falta de água, com já ocorreu com outras três. A solução óbvia de longo prazo inclui a construção de uma nova represa, maior, e a ligação do rio Zambeze com Bulawayo. Porém, essas alternativas implicam consideráveis investimentos, impensáveis na atual situação do país. A escassez de água e a falta de saneamento adequado são problemas que agravam a já complicada situação social de Harare em todo o país.

A inflação galopante e o elevado desemprego afundaram milhões de pessoas na pobreza. Mais de dois milhões dos 13 milhões de habitantes do país sofrerão escassez de alimentos “no terceiro trimestre de 2007”, estima o Programa Mundial de Alimentos. Esse número “aumentará para mais de quatro milhões quando a crise atingir sua máxima expressão nos meses anteriores à próxima colheita, em abril de 2008”, segundo projeções do PMA, uma agência da Organização das Nações Unidas, disponíveis em seu site. Como se não bastasse, a crise política terminou na realização de eleições polêmicas e violações de direitos humanos generalizadas.
(Por Tonderai Kwidini, IPS, 03/08/3007)


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