O convite para comparecer ao gabinete da Reitoria da Unicamp na tarde da sexta-feira (04/08) deixou o engenheiro de alimentos Daniel Ibraim Pires Atala ressabiado, mas a ansiedade foi sanada com a surpresa da indicação e da conquista do Prêmio Bunge Juventude 2007, noticiada pelo reitor da Universidade, José Tadeu Jorge. Atala, 33 anos, é autor da tese de doutorado “Processo Contínuo Extrativo a Vácuo para Produção de Etanol”, que resultou num sistema que permite triplicar a produtividade em dornas de fermentação alcoólica, a partir de melaço de cana-de-açúcar para destilação do etanol. Inovador, o sistema oferece importante redução de custos no processo industrial.
A pesquisa, cuja patente foi depositada pela Agência de Inovação Inova Unicamp, iniciou em uma planta piloto instalada na Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp pelo orientador da tese, professor Francisco Maugeri. Hoje, depois do pós-doutorado supervisionado pelo professor Rubens Maciel, da Faculdade de Engenharia Química (FEQ) da Unicamp, Atala a desenvolve ao lado de pesquisadores do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), localizado em Piracicaba (SP). A divulgação da patente atraiu o interesse do CTC, que atualmente funciona com o investimento de 160 usinas associadas. “O centro viu a possibilidade de cooperação com a Unicamp e ofereceu todo seu know-how do setor industrial para a produção”, esclarece Atala.
Atala esclarece que toda a usina possui um ou mais fermentadores, que são tanques fechados de grandes proporções, acoplados a centrífugas. No sistema desenvolvido na Unicamp é utilizado um filtro para fazer a função da centrífuga e bombas helicoidais para a circulação do meio de fermentação do sistema. Quando o caldo rico em etanol entra no tanque flash, tanque despressurizado, uma fração desse álcool evapora e, posteriormente, é condensada em outro reservatório. Ao contrário do processo tradicional, em que a concentração intermediária é de 9% ou 10%, no novo processo, o valor é de 50%. “Isso elimina a etapa de destilação”, explica.
Um dos grandes ganhos do ponto de vista econômico, contudo, estaria na eliminação da necessidade de resfriamento das dornas. Atala informa que a fermentação alcoólica libera muito calor e, sem um sistema de resfriamento, a temperatura do caldo de fermentação chegaria a 45º ou 50º, insuportável para o microorganismo. Atualmente, como as dornas são muito grandes, o resfriamento só pode ser conseguido com trocadores de placas externos, por onde circula água fria. Os trocadores são os equipamentos mais dispendiosos de uma usina e de manutenção também de alto custo.
O pesquisador explica que numa planta industrial uma dorna pode produzir três tanques de etanol. Na planta piloto, os pesquisadores chegaram a 350 gramas, sendo que no processo se produz 180 gramas. Outra vantagem do ponto de vista econômico é o transporte de linhaça. “Um caldo mais concentrado leva à produção de menos linhaça, o que requer uma quantidade três vezes menor de caminhões para transportar”, explica.
Tadeu Jorge enfatiza que o reconhecimento pelo trabalho de Atala e de outros pesquisadores em edições anteriores do prêmio Bunge cria ainda mais referências para a Universidade. “É um dos maiores prêmios científicos nacionais”, acrescenta.
(Por Maria Alice da Cruz, Jornal da Unicamp, 04/08/2007)