Nesta época, manter barcos na costa significa mil toneladas a menos por dia de sardinhas. A safra do carro-chefe do Vale do Itajaí, contudo, está ameaçada pelo tempo instável.
O mês de agosto e a primeira metade de setembro foram perdidos em função dos ciclones, explicou o presidente do Sindicato da Indústria da Pesca de Itajaí (Sindipi), Antônio Carlos Momm. Traineiras avaliadas em até R$ 1,5 milhão ficaram praticamente sem uso neste período.
Embora o primeiro semestre tenha registrado produção recorde de tainhas (10 mil toneladas), o desempenho do ano e o emprego de 25 mil pessoas só estará garantido se a safra de sardinhas, que começou na última quarta-feira, for boa.
Tratam-se de 40 dias nos quais elas devem ser pescadas em quantidade suficiente para abastecer o mercado nacional até 1º de março, quando acaba o defeso da espécie.
- Estamos com medo, as mudanças climáticas estão bruscas - admitiu o presidente, segundo o qual o mercado de peixe fresco já tem dificuldades de abastecimento.
Tanto que o setor se articula para conseguir do governo mais 15 dias para pescar sardinha. Os empresários argumentam que a proposta garantiria 13º salário e férias de tripulações.
Diesel mais caro pode atrapalharEm 2004, fenômenos climáticos custaram quatro embarcações às pouco mais de 100 empresas associadas ao Sindipi. Precavidos, no entanto, os empresários evitaram prejuízos semelhantes este ano. Não é só o tempo que preocupa a indústria da pesca. Segundo Antônio, o preço do óleo diesel subiu mais de 70% desde janeiro. Na avaliação dele, tal elevação pode inviabilizar a produção na região.
- Temos segundos semestres difíceis há dois anos.
Pescador procura novos empregos Mãos que passaram praticamente a vida inteira lançando redes agora levantam paredes, devolvem troco da passagem ou servem mesas. Condições climáticas adversas, riscos do trabalho em alto-mar e até falta de carteira assinada são fatores que podem explicar a crescente migração de pescadores para outras profissões.
- Este ano já é um dos piores para os profissionais do mar do Estado - reconhece o presidente do Sindicato dos Pescadores de Santa Catarina (Sindipesca), Osvani Gonçalves.
Nas contas do sindicato, que perdeu 12% dos sindicalizados nos últimos cinco anos, a categoria passou mais da metade de 2005 em terra em função dos constantes alertas de mar agitado e forte ressaca. Especialmente no período que começou em abril e acaba neste mês, a temporada de ciclones extratropicais no Litoral.
Para Osvani, os prejuízos totais são incalculáveis. Mas podem ser imaginados a partir daqueles registrados após a ocorrência de ciclone extratropical entre 8 e 9 de agosto: R$ 1,1 milhão em todo o Estado, R$ 473 mil na Capital.
Não bastassem os ciclones, outros fenômenos teriam contribuído para a dificuldade da safra da tainha este ano: ventos inadequados, água 2ºC mais quente e a forte seca do ano passado. Afetada, a Lagoa dos Patos (RS), de onde as tainhas saem em busca de águas mais quentes no Nordeste - passando, então, por SC - para desovar, ficou salgada. Os peixes tiveram que subir muito, ficando distantes da saída - e daqui.
Insegurança contribui no desinteresse
A escassez de mão-de-obra já é notada na Barra da Lagoa, reduto de pescadores artesanais da Ilha. Embarcações vazias ou paradas - há 10 dias ninguém sai ao mar - fazem parte da paisagem. Pescadores na faixa dos 35 anos têm procurado outros serviços para sustentar a família. Os mais procurados são os de vigia noturno, garçom e pedreiro. Os filhos deles, por sua vez, sonham, senão com uma vida, ao menos com um trabalho melhor na cidade.
- Os guris mais novos trabalham de cobrador - relata o pescador Amarildo Vieira, 42 anos.
O Sindipesca atribui o desinteresse das novas gerações à escassez de carteiras de trabalho assinadas. Aliado a isso, o perigo do alto-mar. O sindicato tem informações de barcos sem casario (totalmente abertos) que procuram peixes a 74 quilômetros da costa.
(Por Eduardo Kormives,
Diário Catarinense, 06/08/207)