Uma vez superada a polêmica recusa inicial do governo japonês, uma delegação da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) chegou neste domingo, 5, a Tóquio para inspecionar a usina nuclear danificada em julho por um forte terremoto.
A equipe, composta por quatro analistas em segurança sísmica e dois especialistas desse organismo das Nações Unidas, deve comprovar a gravidade dos danos nas instalações da usina de Kashiwazaki-Kariwa, a maior do mundo, a partir desta segunda-feira, 6, até a próxima quinta-feira (09/08).
A AIEA anunciou oficialmente o envio desta delegação em 24 de julho, oito dias depois do terremoto de 6,8 graus na escala Richter que sacudiu o noroeste do Japão e obrigou a fechar esta usina, após um intenso cruzamento de declarações com o governo japonês.
Em um primeiro momento, o Executivo encabeçado pelo primeiro-ministro Shinzo Abe se opôs à inspeção do organismo nas instalações da usina nuclear, apesar de o próprio diretor-geral da AIEA, Mohamed ElBaradei, ter solicitado ao Japão dois dias depois do terremoto a visita de seus inspetores.
Segundo assinalou então ElBaradei, o objetivo desta visita era realizar uma inspeção total e transparente dos danos sofridos pela central de Kashiwazaki-Kariwa, a maior do mundo em capacidade de produção, para "aprender as lições necessárias".
Os dados preliminares da própria AIEA indicavam que o terremoto podia "ter excedido o nível sísmico assumido para o design" de Kashiwazaki-Kariwa.
Quatro dias mais tarde, o governo japonês se viu obrigado a retificar, acossado pela opinião pública local e a pressão internacional, que exigiam clareza após as informações que apontavam para a existência de vários vazamentos radioativos em conseqüência do terremoto.
A central permanece fora de operação desde o terremoto e ainda não se sabe quando poderá voltar a entrar em funcionamento.
Após as primeiras inspeções, a companhia elétrica Tokyo Electric Power (TEPCO), a empresa proprietária da usina, informou que o terremoto tinha provocado uma fuga de 1,2 metro cúbico de água radioativa ao Mar do Japão (Mar do Leste) e um escape de gás com partículas radioativas através da chaminé principal de um dos reatores.
No total, a companhia elétrica reconheceu 63 falhas de funcionamento na central.
No entanto, a empresa afirmou o tempo todo que as fugas radioativas provocadas pelo terremoto se mantiveram muito abaixo do nível de risco para o homem.
O vice-presidente executivo da companhia, Ichiro Takekuro, lembrou que por enquanto "não foi confirmado nenhum dano grave à estrutura dos edifícios que contêm os reatores e as turbinas nem no restante dos componentes de alta segurança", e minimizou a importância dos vazamentos radioativos.
Após sua visita de quatro dias à usina nuclear de Kashiwazaki-Kariwa, a equipe da AIEA se reunirá na próxima sexta-feira com membros da Agência de Segurança Nuclear e Industrial do Japão para informar sobre a situação na usina.
Esta será a primeira inspeção que uma delegação da AIEA realiza em uma usina nuclear japonesa desde setembro de 1999, quando aconteceu o incidente de Tokaimura.
O terremoto que atingiu em 16 de julho a província de Niigata, onde se encontra a usina de Kashiwazaki-Kariwa, causou onze mortes, mais de mil feridos e perdas materiais estimadas em ¥ 1,5 trilhão (cerca de US$ 12,5 bilhões).
(Agência Estado, 05/08/2007)