A Envolverde – Revista Digital – Ambiente, Educação e Sustentabilidade está no ar há dez anos. Desde sua fundação a cobertura ambiental passou a contar com um outro conceito – a sustentabilidade, que, de certa forma, reorganizou a visão de jornalistas e empresas. À frente da Envolverde, que ganhou em 2006 o Prêmio Ethos de Jornalismo – categoria Mídia Digital, Adalberto Marcondes acredita que houve muitos avanços nos últimos anos, entre eles o fato de as empresas assumirem cada vez mais compromissos públicos. Na entrevista abaixo, Marcondes fala dos temas que estão esquecidos na agenda dos meios de comunicação e de desafios para a sustentabilidade.
Rede Ethos de Jornalistas – Que avanços você vê na cobertura sobre sustentabilidade?
Adalberto Marcondes - Acredito que muitos jornais e jornalistas já compreenderam que sustentabilidade é um processo, não um ato da gestão da empresa. A difusão do conceito de responsabilidade social das empresas, que inclui o uso dos recursos naturais, contribuiu para que esta compreensão aumentasse, principalmente nos cadernos e publicações especializadas em economia. Hoje, o meio ambiente não é mais algo desvinculado das questões econômicas. Por isso, as empresas dão tanta ênfase à gestão ambiental. No jornalismo, aconteceu a mesma coisa: meio ambiente virou assunto econômico, principalmente porque os jornalistas desta área rapidamente perceberam estes vínculos. Há mais resistência ainda nos veículos especializados, que ainda têm uma pauta muito centrada na preservação ambiental e vêem muito oportunismo das empresas quando o assunto é sustentabilidade.
Rede Ethos de Jornalistas – E no comportamento das empresas?
Adalberto Marcondes - A meu ver, um dos grandes avanços dos últimos anos foi a transparência das empresas. Muitas companhias assumiram compromissos públicos de gestão da sustentabilidade, colocando-a como foco em seus planejamentos estratégicos. O fato de existirem certificações, com processos de avaliação da gestão, torna o ambiente para as empresas mais rigoroso e transparente para a sociedade. Temos também organizações da sociedade, como o Instituto Ethos, que emprestam sua credibilidade às empresas e, portanto, demonstram que elas têm preocupações em serem transparentes, sob pena de perderem mercado e provocarem danos a sua imagem. Neste ponto, a sustentabilidade e a responsabilidade social deixam de ser questões ligadas apenas ao marketing das organizações e integram a gestão como um todo.
Rede Ethos de Jornalistas – Você vê riscos na difusão da sustentabilidade?
Adalberto Marcondes - Os riscos são justamente as empresas assimilarem as questões da sustentabilidade apenas ao marketing, a uma posição de mercado, aproveitando-se de um discurso eficiente e do seu poderio econômico. Mesmo porque, tem aumentado o retorno de imagem de empresas que assumem publicamente a questão ambiental como causa. Por isso, é preciso separar o que de fato pode ser considerado como sustentabilidade do que é marketing. Mas acho que a imprensa, de maneira geral, já está mais crítica neste aspecto.
Rede Ethos de Jornalistas – E quais os desafios para a imprensa?
Adalberto Marcondes - Ainda há um foco grande em questões macroambientais como mudanças climáticas, emissões de carbono, Amazônia, desmatamento, que são, sem dúvida, temas relevantes e eternos para o grande público. No entanto, discute-se pouco padrão de consumo, utilização de energia, nosso modelo de transporte. Não dá mais para mantermos tantos carros nas ruas, por exemplo. Pouco se fala sobre moradia, como construir de modo sustentável. Às vezes, tenho a impressão de que a cidade de São Paulo vai até as marginais e as periferias estão esquecidas, aparecendo apenas quando o assunto é violência. É preciso compreender que a sustentabilidade também é uma questão social. Faz tempo também que não discutimos destinação de resíduos. Anos atrás, a classe média ficou irada com o pagamento da taxa do lixo. Só que ninguém discutiu de modo consistente o que fazer com os resíduos, como tratá-los. No fim, a discussão se polarizou entre os que concordavam ou não com o pagamento, o que é muito pobre.
Rede Ethos de Jornalistas – Esta falta de aprofundamento também ocorre em outros temas, não?
Adalberto Marcondes - Este debate também é pobre em outras áreas que envolvem meio ambiente e economia. Podemos falar, por exemplo, dos biocombustíveis. Há toda uma euforia em torno deles. Certamente, eles são mais limpos do que a gasolina, os derivados do petróleo. Devemos considerar que a produção de cana ocupa extensas áreas na superfície da terra. No Brasil, isso é grave porque não fizemos ainda um zoneamento adequado dos nossos recursos naturais. Exportar biocombustível significa perpetuar um modelo de degradação ambiental progressiva. É isso que queremos?
Rede Ethos de Jornalistas – Gostaria que você falasse um pouco da experiência na Envolverde?
Adalberto Marcondes - No nosso site procuramos desenvolver desde o início uma visão de transversalidade em todos os assuntos. Não analisamos temas ambientais sem vínculos com a economia e a sociedade. Não dá mais para usar uma classificação das notícias por editorias. Estamos reorganizando o nosso site e teremos como eixo o conceito de sustentabilidade. Temos sempre a preocupação de compreender os assuntos em seus vários aspectos, principalmente quando temos notícias de empresas. Queremos saber como elas se comportam perante a sociedade, procuramos sempre ler os balanços sociais e interpretar essas informações para enriquecer nossa cobertura.
(Envolverde/Instituto Ethos, 04/08/2007)