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2007-08-03

Será que um porcalhão egoísta e nada brilhante como Homer Simpson é capaz de ficar "verde" quando percebe que sua família está por um triz? Esta é a questão que ronda "Os Simpsons – O Filme", que acaba de estrear nos Estados Unidos e chega aos cinemas brasileiros no dia 17. O meio ambiente é o mote principal: a cidade de Springfield tem um lago poluído, uma população despreocupada e, depois de ser isolada numa redoma de vidro para não contaminar o resto do país, corre o risco de ser explodida e virar um novo Grand Canyon.

Do alto dos seus 8 anos e apaixonada por um pequeno ativista-músico irlandês, Lisa Simpson é quem comanda uma campanha para mobilizar a população e salvar o lago. Ela vai de porta em porta pedindo a ajuda das pessoas e cria uma apresentação de slides para políticos da cidade chamada "An Irritating Truth" - uma referência ao filme de Al Gore. Tudo começa a melhorar em Springfield. Mas o problema é que não é fácil manter o planeta limpo com o pai que ela tem em casa. Mesmo quando toda a população está consciente de que precisa ajudar a salvar o lago, Homer põe tudo a perder por causa de sua gula por donuts.

As piadas ecológicas pipocam na tela a todo momento. As religiosas também. A diferença é que, enquanto a fé é questionada por personagens de todo caráter do início ao fim do filme, apenas os maus e o Homer duvidam da gravidade dos problemas ambientais. "Diz que o aquecimento global é um mito!", ordena o delinqüente Nelson Muntz ao fraquino Milhouse, numa briga de pirralhos. Com medo de apanhar, o moleque repete assustado: "O aquecimento global é um mito! O aquecimento global é um mito!". Outros bons momentos são Arnold Schwarzenegger como o novo presidente dos Estados Unidos e a banda de rock americana Green Day abrindo a história com um concerto num palco flutuante. Ao tentar dar "uma palavrinha sobre meio ambiente", os músicos são vaiados e afundam no lago corrosivo de Springfield. O centenário Sr Burns não é o maior vilão da vez. Apesar de o filme mostrar que qualquer cidadão é vilão quando a questão é meio ambiente, o pior de todos na telona é o presidente da Agência de Proteção Ambiental, Russ Cargill, que reporta ao presidente.

Ninguém pode acusar os Simpsons de tentar pegar carona no movimento ecológico que vem mudando Schwarzenegger e toda a Califórnia – ainda não dá para incluir as dezenas de Springfields americanas nesta lista. A piada é recorrente no desenho, que acaba de completar 18 anos e alcançar a marca dos 400 episódios. Alguns episódios memoráveis:

- Em "O peixe de três olhos" (1990), o lixo industrial do Sr Burns muda o ecossistema de Springfield e Bart aparece na TV ao pescar um peixe mutante.
- Em "Vinte e Cinco Cachorrinhos" (1995), o cachorro dos Simpsons se apaixona, procria e o Sr Burns leva os filhotes para casa. Bart e Lisa logo descobrem que ele quer transformar os cachorrinhos num smoking.
- Em "Lisa e o Velhote" (1997), o Sr Burns resolve começar a reciclar e pede a ajuda de Lisa. O problema é que uma das idéias "geniais" do velho é transformar os plásticos de six-packs numa imensa rede de pesca.
- Em "Lisa, defensora das árvores" (2000), a pequena Simpson – quem mais? - tenta salvar as árvores de Springfield depois de se apaixonar por um ambientalista adolescente.

Mas fazer piadas verdes não significa que os criadores do desenho são defensores apaixonados da causa. Numa entrevista para a revista "Newsweek", o diretor do filme, David Silverman, mostrou que a justificativa não é tão nobre quanto a iniciativa: "Você nunca estará ultrapassado ao falar sobre meio ambiente. Não vai acontecer de alguém dizer... 'Opa, o meio ambiente está bem, não há mais problemas agora!'".
Vale mesmo assim. Principalmente quando se leva em conta que o filme demorou seis anos para ficar pronto e teve sua história reescrita mais de cem vezes por um grupo de 11 roteiristas. Ótimo descobrir que a sátira à política ambiental americana resistiu, entre outras boas tiradas, e o filme estreou como líder de bilheteria no fim de semana passado nos Estados Unidos. A questão, então, agora é outra: ao rir de si mesmos, os Homers da vida real serão capazes de captar alguma boa mensagem?

(Por Adriana Maximiliano, OEco, 03/08/2007)
 
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