O coordenador de Saúde Indígena da Funasa (Fundação Nacional de Saúde) em Mato Grosso do Sul, médico Zelik Trajber, prevê novos óbitos por subnutrição entre crianças indígenas no Estado. Citou como primeiro ponto agravante a superpopulação nas aldeias, tendo como exemplo a Reserva Indígena de Dourados, onde quase 12 mil índios vivem em pouco mais de 3 mil hectares de terra. Além disso, a reserva está a apenas três quilômetros do centro da cidade, ficando dessa forma vulnerável a problemas como a Aids, drogas e alcoolismo.
Sobre o quadro atual da saúde infantil, informou que existem 40 indígenas menores de 5 anos internados no Centro de Recuperação da Criança Subnutrida em Dourados e pelo menos outros 40 na mesma faixa etária passam mensalmente pelo Hospital Universitário da cidade. "São quase 2.300 crianças atendidas pela Funasa. Desse total, 14% estão sob risco de desnutrição e 8% desnutridas".
Para Zelick, o mais preocupante não são as crianças internadas nos hospitais de Dourados, mas as que estão vivendo entre as famílias consideradas sob risco, calculadas em 80 grupos somente no município de Dourados. "Essas famílias têm problemas graves, entre eles o pior de todos que é o alcoolismo". Lembrou que a menina de dois anos da etnia kaiowás falecida ontem estava em estado de subnutrição, e a família é uma do grupo de risco. "A menor vinha sendo assistida desde o nascimento, em maio de 2005, mas a mãe tirou várias vezes a filha do hospital".
Para ele, à medida em que aumenta o número de famílias do grupo de risco, os casos de doenças são modificados. "Em 2001, quando a Funasa assumiu o saúde indígena no MS, a maioria dos casos de óbitos era por diarréia, subnutrição e pneumonia. De 2005 para cá, o quadro mudou para acidentes cardiovasculares, suicídio, assassinatos e até Aids". Para o médico, a solução é a implantação de sistemas que permitem a auto-sustentação das tribos.
(Agência Estado, 02/08/2007)
http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,AA1601869-5598,00.html