Porto Alegre - O uso exagerado de agrotóxicos nas lavouras de soja vem matando abelhas e destruindo colméias no Rio Grande do Sul. O caso já ocorre há 4 anos no Estado e aumentou gradativamente no último período. Alguns produtores chegaram a perder de 70% a 90% de suas colméias.
O engenheiro agrônomo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Aroni Satler, conta que é comum as abelhas deixarem a colméia devido a um mal manejo ou por falta de comida. No entanto, ele ressalta que neste caso as abelhas estão morrendo intoxicadas por formicidas e venenos utilizados para matar pragas, como a lagarta da soja.
"O que temos aí, que é bem característico, são mortandades grandes, nos últimos anos, com agrotóxicos. Principalmente nos cultivos mais extensos, que é a soja, e agora a soja e a canola, e também nas lavouras onde se usa plantio direto, pelo uso indiscriminado de dessecantes, onde se mistura um formicida para apresentar a mesma ida da máquina. Isso, tanto em pulverização aérea como terrestre", diz.
A apicultura no Rio Grande do Sul é característica da pequena propriedade, mas nos últimos anos ela vem sendo desenvolvida também em escala empresarial. Aroni afirma que a intoxicação afeta principalmente os profissionais, pois transportam as colméias para perto nas lavouras de soja para obter um mel mais claro.
No entanto, quando as abelhas são intoxicadas, a perda é total, tanto no caso da pequena propriedade como das empresas. "A abelha que é contaminada e não morre no campo, traz o produto para dentro da colméia, onde contamina as operárias que estão trabalhando junto", afirma.
Aroni teme que a intoxicação das abelhas aumente com a expansão das culturas de girassol e canola para a produção de agrocombustível. Atualmente, as regiões de Nonoai, Erechim, São Borja, Santiago e São Gabriel registram o maior número de apicultores prejudicados.
"Isso tem uma tendência a aumentar ainda mais, porque com os monocultivos destinados ao biodiesel, principalmente de girassol e de canola, essas duas plantações são muito atrativas para as abelhas. Elas produzem pólen e néctar. Se não houver um bom controle disso, um trabalho de conscientização dos produtores e dos apicultores, esse prejuízo vai ficar maior ainda", diz.
O Rio Grande do Sul produz, em média sete mil toneladas de mel por ano. Apenas 2 mil toneladas são exportadas, ficando o restante para consumo no país. A agricultura camponesa é responsável por cerca de 60% dessa produção.
(Por Raquel Casiraghi,
Agência Chasque, 03/08/2007)