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2007-08-03
Em outubro, oito microdestilarias de álcool que estão sendo instaladas no interior do Rio Grande do Sul devem começar as atividades. Os empreendimentos são resultados de uma parceria entre a Petrobras e a Cooperativa Mista de Produção, Industrialização e Comercialização de Biocombustíveis do Brasil (Cooperbio) que desenvolvem um projeto-piloto de produção de etanol através da agricultura familiar no Estado.

O contrato entre a estatal e a cooperativa estabelece a instalação de nove microdestilarias e uma retificadora central. A unidade instalada no município de Redentora foi inaugurada em maio. Em outubro, iniciam-se as operações das plantas de Caiçara, Cristal do Sul, Erval Seco, Iraí, Pinheirinho do Vale, Seberi, Taquaruçu do Sul e Vista Alegre. Cada microdestilaria terá uma capacidade para produzir até 500 litros de etanol semi-acabado diariamente.

O álcool produzido pelas microdestilarias será refinado na destilaria central para atender às especificações da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Essa unidade ficará situada em Frederico Westphalen, podendo alcançar a produção de 5 mil litros ao dia. O produto será adquirido prioritariamente pela Petrobras Distribuidora para comercialização no varejo. O investimento da Petrobras na iniciativa é estimado em cerca de R$ 2,3 milhões.

O projeto da estatal e da Cooperbio prevê a plantação de cana-de-açúcar e mandioca para a produção de etanol em, no máximo, dois hectares por família. Já na primeira safra de cana os agricultores tiveram uma produtividade de 60 toneladas por hectare, sendo que cerca de 20% da área plantada foi consorciada com a produção de feijão, rendendo 20 sacas por hectares em média. Neste projeto está estimada uma produtividade agrícola de 70 toneladas de cana por hectare e uma produtividade industrial de 70 litros de álcool por tonelada de cana. Em relação à mandioca está prevista uma produtividade agrícola de 19 toneladas por hectare e uma produtividade industrial de 160 litros de etanol por tonelada.

A diretora de aquisição de biocombustíveis da Petrobras Distribuidora, Maria Cristina da Costa e Silva Ferreira, argumenta que a idéia da Petrobras, por ter entre seus focos o investimento social, é desenvolver uma cultura agrícola em uma região onde ainda não existe essa atividade. Maria Cristina acrescenta que a vocação agrícola do Rio Grande do Sul beneficia as pequenas propriedades. A executiva participou ontem do Seminário Cana-de-açúcar, Álcool e Etanol - o Rio Grande do Sul como Potência Energética, realizado na Assembléia Legislativa.

Outro palestrante do evento, o coordenador-geral de açúcar e álcool da Secretaria de Produção e Agroenergia do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Alexandre Strapasson, destaca que a Petrobras pode ter um papel estratégico no Rio Grande do Sul também como compradora de álcool. Strapasson acredita que um dos fatores que permitirá que novos produtores gaúchos entrem no mercado competitivo do álcool é o custo do frete. Atualmente, quase a totalidade do combustível consumido no Estado é proveniente de São Paulo e do Paraná o que encarece o preço do produto.

O relator da Subcomissão para Estudos Relativos à Cana-de-açúcar, ao Álcool e ao Etanol, deputado Heitor Schuch (PSB), informa que, segundo zoneamentos preliminares feitos pela Embrapa e Fepagro, 215 municípios gaúchos estão aptos a cultivar cana-de-açúcar para fabricar açúcar e álcool. O deputado lembra que as regiões mais propícias para a fabricação de álcool e de açúcar no Estado são o Litoral e as Missões.

Produção de cana requer muita pesquisa
"Não estamos 100% prontos para dizer aos produtores gaúchos que plantem cana-de-açúcar". A afirmação foi feita nesta quinta-feira pelo presidente da Fepagro, Benami Bacaltchuk, um dos palestrantes do seminário Cana-de-açúcar, Álcool e Etanol - O Rio Grande como potência energética, realizado na Assembléia Legislativa. Na opinião dele, o enquadramento do Estado como produtor auto-suficiente de etanol, depende de uma série de questões que ainda estão em fase de estudo e adaptação, com a introdução de cultivares de cana. "Temos que pensar no problema da declividade dos terrenos, da fertilidade dos solos, do clima, da mão-de-obra disponível", enumera.

Segundo ele, a Fepagro está empenhada em desenvolver cultivares mais adaptadas a temperaturas baixas, com produção mais eficiente e alto potencial genético. "Contamos com 36 mil hectares de cana plantados hoje no Estado. Precisamos de 150 mil para nos auto-abastecer." Bacaltchuk anunciou que já foram identificadas três regiões com potencial para produção e mecanização das lavouras de cana no Estado: Oeste, Depressão Central e Litoral Norte.

O pesquisador da Embrapa Clima Temperado, Waldir Stumpf, disse que a instituição trabalha hoje com 120 clones de cana já implantados e que estão em fase de avaliação. "Estamos na etapa de distribuição desse material por todo o Estado, para ver como vai responder a diferentes solos e ambientes". Para ele, é necessário que os estudos de viabilidade da cultura no Rio Grande do Sul sejam realizados de forma lenta para evitar euforia entre os produtores.

Para o professor da Unisinos, engenheiro Junico Antunes, o Estado precisa gerar um modelo de negócio que responda a sua realidade e destacou que o Rio Grande do Sul tem potencial para se tornar auto-suficiente em etanol. "O jogo é substituir a torre de petróleo. A alcoolquímica vai substituir a petroquímica, mas precisamos apostar na inovação." O professor da Universidade de Brasília (UnB), José Walter Bautista Vidal, considerado o "pai" do ProÁlcool, que participou do painel Modelos de produção, tecnologia e mercado para a cana-de-açúcar, álcool e etanol, elogiou o esforço da agricultura familiar gaúcha no desenvolvimento do plantio de cana. Criticou, no entanto, a falta de apoio do governo na aplicação novas tecnologias capazes de incrementar a produção. Na opinião dele, falta para o País uma instituição que gerencie o álcool, a exemplo do que a Petrobras faz com o petróleo.

Durante o evento, o deputado Heitor Schuch (PSB), relator da Subcomissão de cana-de-açúcar, álcool e etanol, propôs a criação de uma Comissão Especial de Bioenergia no Estado, vinculada ao gabinete da governadora Yeda Crusius, reunindo representantes de todas as secretarias e órgãos estaduais envolvidos com o tema. "Trataria da formulação de estratégias para a expansão das possibilidades de geração de bioenergia, como o cultivo de cana no Estado, voltada à produção de etanol, a exemplo do que foi feito em São Paulo, hoje referência na indústria sucroalcooleira no País".

Atualmente, o Rio Grande do Sul importa 98% de todo o álcool combustível que consome, oriundo principalmente de São Paulo. As despesas com a importação chegam a R$ 1,3 bilhão por ano. Os 2% restantes são produzidos em Porto Xavier, pela Coopercana, única usina de álcool existente em território gaúcho. "São milhares de divisas e empregos que deixamos de manter no Estado", lamenta.

(JC-RS, 03/08/2007)


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