Mais soja e cana irão para a produção de combustíveis e até o milho será matéria-prima para etanol. Nos próximos três anos, os biocombustíveis vão responder por mais da metade da receita do campo e abocanhar uma parcela significativa da produção agrícola brasileiraMais soja e cana irão para a produção de combustíveis e até o milho será matéria-prima para etanol. Nos próximos três anos, os biocombustíveis vão responder por mais da metade da receita do campo e abocanhar uma parcela significativa da produção agrícola brasileira. A estimativa é que em 2010 cerca de 15% da safra de soja seja destinada à produção de biodiesel e 61% da de cana-de-açúcar para o etanol. Além disso, pela primeira vez o milho poderá ser usado na fabricação de etanol, assim como ocorre nos Estados Unidos. Produtores de Mato Grosso - hoje principal estado na colheita da safrinha - estão realizando estudos para a implantação de usinas de álcool de milho.
Hoje nada da produção de grãos é destinada ao etanol no Brasil e, no caso da soja, apenas 4,3% da colheita vira combustível. Somente na cana-de-açúcar é que o percentual é maior: 54% da safra se converte em álcool.
Apesar do "desvio" da produção de alimentos para a de combustíveis, a expectativa é que os preços agrícolas se arrefeçam, mas mantenham-se em patamares acima da média histórica.
Para que percentual tão alto da colheita nacional seja destinada à fabricação de combustíveis, o País receberá, nos próximos três anos, investimentos de quase US$ 15 bilhões em usinas de álcool e biodiesel. Não existem estimativas de quanto poderá ser aplicado para a construção de usinas de etanol de milho.
Projeções da RC Consultores indicam que a receita do campo será impulsionada pela soja, milho e cana-de-açúcar, matérias-primas dos biocombustíveis, somando R$ 141 milhões em 2010, um aumento de 18,4% em relação ao estimado para este ano. Estes produtos terão taxas de crescimento da receita acima de 20%.
Na avaliação de Fábio Silveira, economista da RC Consultores, os grãos já viveram um "boom" de preços neste ano e, por isso, a agroenergia não impactará no preço dos alimentos. De acordo com ele, a pressão altista irá até 2009, mas os atuais patamares da soja, de US$ 9 o bushel não se sustentarão. Pelas suas estimativas, o grão ficará em níveis de US$ 7,50 o bushel - acima dos históricos, próximos a US$ 6 o bushel. "Não comungo da idéia de que a agroenergia vai encarecer os alimentos. Apenas neste intervalo, pois haverá uma normalização da oferta", acredita. Isso porque, em sua avaliação, no caso do biodiesel, o Brasil e a Argentina têm condições de aumentar em 30 milhões de toneladas a produção de soja mundial em três anos - com área e ganho de produtividade. No caso do álcool, a RC Consultores estima preços de US$ 0,35 a US$ 0,37 o litro ao produtor, acima da média desta década, que ficou em US$ 0,26 o litro, mas abaixo do "boom" de 2006 - US$ 0,41 o litro. "Apesar da demanda forte haverá também uma expansão significativa da produção", afirma.Milho
Pelos cálculos da Safras & Mercado, os custos de produção de álcool são de US$ 0,241 por litro no Brasil - a partir da cana-de-açúcar - enquanto nos Estados Unidos são de US$ 0,415 por litro - a partir de milho. Apesar desta diferença, os produtores de Mato Grosso acreditam na viabilidade.
"A cana imobiliza terras. Com o etanol do milho podemos continuar plantando soja no verão e o cereal na safrinha", afirma Marcelo Duarte, diretor-executivo da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja). Segundo ele, a previsão é que o estudo sobre a viabilidade fique pronto no final do ano. Na sua avaliação, o etanol de milho em Mato Grosso pode ser possível porque os preços no estado são quase a metade dos praticados nos Estados Unidos. Além disso, seria uma saída aos produtores que, por estarem longe dos portos acabam tendo os valores mais baixos do País.
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Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 7, 03/08/2007)