Pequenos produtores de suínos em Marechal Candido Rondon, no Paraná, buscam tecnologia para transformar dejetos em energia por meio de biodigestores eficientes e baratos. Reunidos pela Cooperativa Agroindustrial Copagril, 16 proprietários de terra integram a primeira fase de um projeto que pretende reduzir a poluição gerada pelo gás metano, proveniente dos dejetos, para trocar por créditos de carbono.
O produtor de suínos daquela região Victor Hugo Borgmann explica que o projeto é uma oportunidade para produzir energia e utilizar adubo orgânico, porém, a expectativa é encontrar uma tecnologia definitiva de produção de energia para a auto-suficiência da propriedade. “A suinocultura passa por um momento complicado e está sobrevivendo”, diz. Borgmann avalia que o país está avançado em tecnologias acessíveis a grandes produtores, mas é carente em tecnologias eficientes e de baixo custo para os produtores menores.
O zootecnista Olmar Belincanta, encarregado do fomento suíno na Copagril, afirma que os produtores cooperados receberam bem a idéia de integrar o projeto que prevê a instalação de biodigestores em suas propriedades. “Isso começou há um ano e meio, inclui 16 produtores e cerca de seis mil suínos.” Segundo ele, entre as missões da cooperativa está produzir com responsabilidade visando ganho ambiental e econômico.
Belincanta lembra que, apesar do entusiasmo, os produtores não têm recursos suficientes e precisam de um investidor para desenvolver o projeto. “Precisamos de uma agência que faça essa negociação”, argumenta.
O biodigestor deverá ser instalado num raio de 20 quilômetros, com um mínimo de 12 mil suínos. Cada tonelada de metano vale cerca de 15 dólares.
Tecnologia - De acordo com Jörgen Leeuwestein, diretor da Ecobusiness, empresa que executa projetos de desenvolvimento sustentável, o metano é 21 vezes mais poluente que o gás carbônico e será queimado para reduzir a poluição. “O biodigestor possui um tubo com queimador que acende periodicamente (para ter certeza que o gás está sendo queimado) e um sistema de monitoramento que avalia o volume de gás emitido.”
Segundo ele, no frio, o processo é menos rápido, pois há menor formação de gás devido às baixas temperaturas. Apesar disso, ele afirma que há muitos projetos em andamento em toda a região Sul. “Pequenos produtores têm biodigestores em funcionamento com resultados comprovados”, afirma.
Vantagem - Atualmente, na região de Marechal Candido Rondon, a grande maioria dos pequenos produtores de suínos mantém os dejetos em lagoas a céu aberto que, posteriormente, são despejados na lavoura “in natura”, sem que tenham sido transformados em adubo. Segundo o produtor Borgmann, a vantagem em relação ao novo método é a preservação ambiental, a fertirrigação e a produção de gás para energia que poderia ser aproveitada na propriedade.
Ele explica que toda a produção de suínos é destinada à cooperativa, por meio de um sistema produtivo de integração. A cooperativa incentiva a instalação de biodigestores, mas, além disso, Borgmann acredita que é preciso um investidor disposto a bancar vários pequenos produtores e não apenas um grande.
Protocolo de Quioto - Para ingressar no mercado internacional de crédito de carbono, os produtores precisam de um investidor que banque, além do biodigestor, que hoje chega a custar cerca de R$ 200 mil, o credenciamento junto à ONU, que custa 15 mil euros (cerca de R$ 38 mil), e o custo de consultoria da empresa que faria esse credenciamento. “A idéia é interessante, mas tem que ser levada à diante, pois nós vamos encontrar muitas dificuldades”, acredita Borgmann.
O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) foi criado pelo Protocolo de Quioto para auxiliar o processo de redução de emissões de gases do efeito estufa (GEE) ou de captura de carbono (ou seqüestro de carbono).
Há quinze setores onde projetos MDL podem ser desenvolvidos: geração de energia (renovável e não-renovável); distribuição de energia; demanda de energia (projetos de eficiência e conservação de energia); indústrias de produção; indústrias químicas; construção; transporte; mineração e produção de minerais; produção de metais; emissões de gases fugitivos de combustíveis; emissões de gases fugitivos na produção e consumo de halocarbonos e hexafluorido de enxofre; uso de solventes; gestão e tratamento de resíduos; reflorestamento e florestamento; agricultura.
(Revista Fator, 03/08/2007)