Terremoto não é exatamente uma preocupação brasileira. Mas a população de Nova Jaguaribara (CE) assustou-se com um tremor que atingiu a cidade no dia 11 de julho. Embora considerado de baixa densidade - entre 2 e 2,5 graus na escala Richter (veja quadro) -, o abalo preocupa por atingir a região da barragem do Castanhão. Assim, qualquer dano significativo à estrutura prejudicaria os mais de 200 mil habitantes que vivem em vários municípios próximos ao local. A Secretaria de Infra-Estrutura Hídrica do Ministério de Integração Nacional (MI) estuda a possibilidade de instalar uma estação
sismológica no reservatório para acompanhar episódios similares, serviço em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que já atua na área.
Regiões de reservatórios estão mais vulneráveis a abalos sísmicos, pois a pressão da água pode induzir a acomodação de placas tectônicas da crosta terrestre (fator que leva ao tremor). Embora algumas hidrelétricas e barragens mantenham estações sismológicas, o Brasil não possui um órgão específico para tratar do assunto nem um sistema integrado de monitoramento.
"Precisamos de uma unidade de vigilância para registrar e acompanhar as ocorrências", defende o professor do Observatório Sismológico da
Universidade de Brasília (UnB), Lucas Barros. Ele ministrou palestra sobre o assunto na tarde de terça-feira (31/07), no MI. O encontro foi aberto ao público.
Alerta
O professor Barros alerta que, embora o Brasil não apresente
condições propícias a grandes abalos sísmicos, o país não está imune. "A ocorrência de sismos de grande magnitude no país é baixa, mas não é desprezível", afirma Barros. Desde os anos 1950, já são 19 casos comprovados de tremores significativos - maiores ou iguais a 3 graus na escala Richter - e dois de tremores acima dos seis graus. Nesses casos, os abalos alcançam um raio de 50 km e podem provocar danos graves caso aconteçam próximo à superfície da Terra, como queda de prédios e casas (veja lateral). Mesmo com sismos de menor intensidade, essas ocorrências, aliadas à possibilidade de danos na estrutura de reservatórios (o Brasil tem 265 barragens hidrelétricas), reforçam a necessidade de maior sistematização das ações.
O observatório da UnB já desenvolve projeto para a criação de uma rede sismográfica nacional para monitorar os abalos em todo o território
brasileiro. A unidade é reconhecida pelo governo federal (conforme o decreto nº 97.274 de 1988) como referência para o estudo de terremotos e monitora mais de 60 estações sismológicas, a maioria próxima a hidrelétricas das regiões Sudeste e Sul do país. No entanto, as ações ainda são pontuais e falta modernização dos equipamentos. "A idéia é que as estações estejam distribuídas de forma mais uniforme pelo país e que operem em tempo real via satélite", explica Barros.
Tempo real
Como o investimento para a criação da rede é muito alto(aproximadamente, US$ 20 mil para cada estação), o observatório conta com o apoio das empresas ligadas às hidrelétricas, como Eletronorte e Furnas Central Elétrica, que já são parceiras no monitoramento. A unidade da UnBficaria responsável por instalar estações na Ilha da Trindade (ES) e mais uma em Santa Catarina. A proposta é finalizar a rede em três anos. A primeira estação a ser modernizada, até dezembro de 2007, será a de Postos do Gaúcho (MT).
A região próxima à cidade preocupa quanto à ocorrência de tremores de alta intensidade, já que em 1955 sofreu um de 6 graus na escala Richter. Sismos como esse se repetem em ciclos de 50 anos, em média. "Na época, a região não era habitada, mas hoje a situação é diferente", alerta Barros. "Com a rede, poderemos registrar tremores tanto de baixa quanto de alta intensidade de forma sistematizada e ágil", afirma. Ele, no entanto, diz que ainda não existe tecnologia para prever tremores, mas que o monitoramento é fundamental para minimizar impactos a partir de restrições e orientações para as construções locais.
O que é a escala Richter?
A tabela que mede a intensidade de energia sísmica dos terremotos, conhecida como Escala Richter, surgiu em 1935, idealizada pelo sismólogo norte-americano Charles F. Richter. Após coletar e interpretar dados de inúmeras ondas liberadas pelos abalos sísmicos, o sismólogo criou um sistema para calcular a magnitude delas. Inicialmente, a escala foi criada para medir apenas a magnitude de tremores no sul da Califórnia, mas hoje é utilizada em todo o mundo.
Efeitos dos terremotos (*)
Menos de 3,5 graus na escala Richter: geralmente não é sentido
3,5 a 5,4 graus: pode causar pequenos danos, ainda que não seja sentido
5,5 a 6 graus: provoca pequenos danos a edificações
6,1 a 6,9 graus: pode causar danos graves em regiões densamente povoadas
7 a 7,9 graus: terremoto de grandes proporções com danos graves
8 graus ou mais: tremor muito forte que causa destruição total na comunidade
atingida e em povoados próximos
(*) A escala Richter é aberta e não há limite máximo de graus
De onde vem a força dos tremores
- Magnitude e intensidade
- Condição do solo
- Proximidade de centros urbanos
- Qualidade das construções
- Proximidade da superfície
(Envolverde/UnB Agência, 02/08/2007)