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2007-08-03
As pequenas ondas gentilmente beijam a plataforma branca de cinco por cinco metros que funcionava como um local de encontro para ocasiões especiais, desde casamentos até comemorações pelo Dia da Independência, para os dois mil moradores da localidade costeira indiana de Uppoor. Mas hoje é o lugar de discussões dos habitantes preocupados com a diminuição das populações de peixes nas águas azuis do oceano Índico e com a ameaça que isto representa para seu sustento. Os moradores de Uppoor, no distrito de Ramanathapuram, na província de Tamil Nadu, puderam superar a devastação causada pelo tsunami de dezembro de 2004, mas ainda lidam com os efeitos da degradação ambiental, agravados pelas alterações no nível do mar, creditadas à mudança climática.

“Alguns de nós economizamos dinheiro e compramos botes motorizados. Mas agora não vale a pena gastar em combustível para entrar no mar”, disse Abdul Qadir, um pescador local. Mani Palianchamy, de 70 anos, sofre ao ver como o que foi o ofício de sua família por cinco gerações pouco a pouco se transforma em algo insustentável. “É culpa dos botes mecânicos, da pesca de arrasto e de várias outras modernidades”, disse, com tristeza. Mais de um terço da população indiana na costa do oceano Índico, em particular no golfo de Mannar, depende da pesca para sobreviver.

Os pescadores do sul são conhecidos por suas habilidades com a linha e o anzol e por não terem medo de tubarões. Entretanto, a frustração os está levando ao limite. Localizada no extremo sudeste do subcontinente, a Reserva de Biosfera Marinha do Golfo de Mannar, formada por mais de 20 ilhas e 150 quilômetros de costa, é a região de maior riqueza biológica da Índia. A biosfera é o lar de 42 espécies de fitoplâncton, 3.600 espécies de plantas e animais e 115 espécies de corais, segundo um estudo da Fundação de Pesquisa M. S. Swaminathan. A exploração comercial dos arrecifes de coral e a remoção em grande escala de mangues afeta a pesca no golfo, que historicamente teve uma produção muito alta.

Várias iniciativas de desenvolvimento na região, como o Projeto do Canal para Barcos Sethsamudram, também ameaçam o meio ambiente, alertaram ambientalistas. Este plano prevê obras de dragagem para a criação de uma via acessível para grandes embarcações entre o mar Arábico e a baía de Bengala. As águas quentes desta área é o habitat de um complexo ecossistema. Cientistas do Instituto Nacional para a Pesquisa da Engenharia Ambiental (Neeri), com sede na cidade indiana de Nagpur, temem que a mudança das correntes do mar em razão da dragagem possa alterar as temperaturas, a salinidade, a turbidez e o fluxo dos nutrientes das águas, afetando o único e sensível ecossistema local.

“Já morreram corais por causa de um modesto aumento na temperatura. Se as correntes costeiras aumentarem devido à mudança climática, isso poderá ser significativo, afetando os arrecifes, que são habitat contidos em si próprios”, explicou o cientista V. N. Karunagaran, que trabalhou para a Fundação Swaminathan. “As mudanças na ecologia e na cadeia alimentícia também afetarão a população de peixes”, acrescentou. A contaminação, os vazamentos de petróleo e o despejo de lixo e materiais indesejáveis dos navios se espalham e diluem graças às correntes oceânicas. Mas se a região mudar devido aos projetos de desenvolvimento, mais contaminação afetará alcançará o litoral.

“É possível que a dragagem levante o pó e as toxinas que jazem no fundo do oceano. Isto afetará negativamente a população de corais, ostras e pepinos do mar. Outras espécies também sofrerão impacto pela turbidez das águas. Não há pesquisas geológicas sistemáticas sobre as melhores áreas para serem escavadas”, disse o cientista Rakesh Jumar, do Neeri. Uma mudança nas correntes marinhas também poderia causar marés mais altas, com ondas mais fortes, aumentando a erosão na costa.

Um documento elaborado pelo Tata Energy Research Institute e pelo Ministério de Meio Ambiente em 2000 previu elevação do nível domar em um metro, o que poderia deslocar cerca de 7,1 milhões de pessoas que dependem do oceano para sobreviver. Isto, por sua vez, afetaria as zonas rurais. Outros estudos indicam que um aumento de quatro graus na temperatura da superfície marítima pode elevar a intensidade dos ciclones entre 10% e 20%. Segundo o Instituto de Administração do Oceano, os níveis de radiação ultravioleta causados pela redução da camada de ozônio cresceram 9% na última década. Isto se traduz na perda de renda para as comunidades pesqueiras, diz o estudo.

“A informação sugere que os níveis do mar na Índia aumentaram 2,5 milímetros ao ano desde a década de 50. a mudança climática ainda está por se converter em uma área prioritária de pesquisa, apesar de vários estudos globais mencionarem a Índia entre os 27 países mais vulneráveis aos impactos do aquecimento global”, disse o professor A. Sankaran, da Universidade de Madurai Kamaraj. “A mudança climática tem um efeito direto em nossa sobrevivência. Mas somos totalmente marginalizados pelo governo e pelas organizações não-governamentais”, disse o pescador Abdul.
(Por Soma Basu, IPS, 02/08/2007)


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