O uso de polímeros feitos com materiais orgânicos simplifica a produção de semicondutores e aumenta suas possibilidades de uso. Os semicondutores orgânicos, pesquisados pelo físico Fernando Castro, poderão baratear a produção de células de energia solar e produzir telas para televisores (displays) maiores e flexíveis.
Ao contrário dos semicondutores convencionais, produzidos a partir do processamento de minerais como silício e germânio, os orgânicos são compostos basicamente por carbono e hidrogênio, agrupados em polímeros. “Os semicondutores inorgânicos são obtidos da natureza já com propriedades eletrônicas definidas”, conta Castro. “Já os semicondutores orgânicos podem ser sintetizados em laboratório, o que permite que suas propriedades químicas e físicas possam ser ajustadas por processos simples, visando uma aplicação específica”.
Segundo o físico, nos semicondutores orgânicos é possível alterar a condutividade elétrica, a solubilidade em determinado solvente e sua flexibilidade em estado sólido, entre outras propriedades. “Por exemplo com equenas modificações pode-se obter um material que emita luz azul, verde ou vermelha, o que é importante para a produção de displays”, explica. “Esses dispositivos são conhecidos como OLEDs, e começam a ser aplicados em câmeras e televisores”.
Castro aponta que os semicondutores convencionais necessitam de processos muito caros para purificação e controle de qualidade. “Qualquer impureza altera a sua performance, enquanto os semicondutores orgânicos, por poderem ser processados em solução, podem ser produzidos com preços melhores”, destaca.
Células SolaresEm sua tese de doutorado na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, o físico desenvolveu uma metodologia que aumenta a eficiência de células solares. “Muita energia é utilizada para a fabricação de células com semicondutores inorgânicos, e isso implica que só haverá um retorno desta energia gasta após alguns anos”, diz. “Por essa razão e pelo preço atual dos módulos solares esta tecnologia ainda não pode competir com hidrelétricas e outras fontes”.
Os semicondutores orgânicos substituem os convencionais como material ativo nas células solares. “A diferença é exatamente a possibilidade de se reduzir muito os custos de produção”, conta Castro. “Além disso, o material permitiria células solares com cores e formatos diferenciados ou mesmo transparentes, o que permitiria um maior apelo comercial, pois as células convencionais são normalmente pretas ou cinza-escuro”.
O físico ressalta que novas pesquisas deverão aumentar a eficiência das células solares com semicondutores orgânicos, que ainda é menor que nos modelos comuns. “Os novos semicondutores podem ser usados em transistores, sensores, dosímetros de radiação, entre outros dispositivos”, relata. “Como eles são materiais solúveis, também está em desenvolvimento o seu uso como tinta eletrônica para impressão de dispositivos optoeletrônicos por jato de tinta em grandes rotativas”.
Displays para televisores analógicos e digitais mais leves e finos podem ser obtidos com os semicondutores orgânicos. “Eles teriam cerca de um centímetro de espessura, apresentariam maior brilho e melhor ângulo de visão do que displays com tela de LCD e poderiam ainda permitir a produção de displays flexíveis, que podem ser enrolados”, afirma Fernando. O físico realizará pesquisas de pós-doutoramento no Swiss Federal Institute for Material Testing and Research (EMPA), na Suíça.
(Por Júlio Bernardes,
Envolverde / Agência USP, 01/08/2007))