A polêmica da biotecnologia na agricultura brasileira volta à tona. A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) vai realizar, no próximo dia 17, na Comissão de Agricultura da Câmara Federal, uma audiência pública para discutir a liberação comercial de mais quatro variedades de algodão transgênico. O momento é de otimismo para fabricantes, pesquisadores e produtores, e de apreensão entre os movimentos de defesa do meio ambiente.
Na Bahia, segundo maior produtor de algodão do país, a expectativa é grande. Na safra 2006/2007, o estado ocupou o segundo lugar, atrás apenas do Mato Grosso, entre os que mais plantaram algodão geneticamente modificado, com 28 mil hectares, 10% dos 278 mil hectares cultivados na região. A estimativa é ampliar essa área em mais de 10% este ano.
“Caso os impasses que emperram o avanço da biotecnologia no Brasil sejam solucionados, a Bahia pode ter 90% de sua área destinada ao cultivo de algodão ocupada com variedades geneticamente modificadas nas próximas safras”, projetou o consultor em agronegócios Eleusio Freire, durante teleconferência realizada para jornalistas pelo Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB), ontem, direto de São Paulo.
“O produtor baiano tem amplo interesse no algodão transgênico e conhece bem seus benefícios, porque costuma fazer intercâmbios nas lavouras da Austrália e Estados Unidos, sem falar que a cotonicultura do estado sofre muito com o ataque de lagartas que, em outros países, são amplamente combatidas por variedades geneticamente modificadas ainda não aprovadas no Brasil”, acrescentou.
O presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) e vice-presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), João Carlos Jacobsen, aposta na agilidade para liberação de pesquisas e experiências com transgênicos, principalmente depois da recente determinação de redução do quorum para a aprovações de novas tecnologias na CTNBio, que passou de 2/3 para maioria simples. “O assunto está sendo desmistificado. Mesmo os mercados mais avessos aos organismos geneticamente modificados, aos poucos revêem posições e, hoje, as empresas mal exigem a segregação entre transgênicos e não-transgênicos. Poucas pagam preços diferenciados por isso, em uma prova de que o mercado já assimila essa tecnologia”, declarou.
Atualmente, o Brasil só possui um tipo de algodão transgênico aprovado, o Bollgard I (Bt), resistente a insetos. A diretora-executiva do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB), Alda Lerayer, estima que, na próxima década, se a biotecnologia ficar de fora ou for dificultada, os produtores de algodão brasileiros deixarão de ganhar US$2,1 bilhões.
Em seu site, a instituição ambiental Greenpeace lista uma série de registros de contaminação transgênica, ao longo de dez anos de cultivo comercial de variedades geneticamente modificadas, desde 1996. “O perigo ganhou proporções assustadoras em 2006, quando houve recorde de casos de contaminação de lavouras em todo o mundo”, alerta.
Segundo recente relatório do Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações em Agrobiotecnologia (ISAAA), o plantio de transgênicos no Brasil avançou 22%, de 2005 para 2006, chegando à marca de 11,5 milhões de hectares cultivados. Outro dado revela que mais de 9,3 milhões ou 90% dos agricultores que cultivaram plantações geneticamente modificadas, no ano passado, são pequenos produtores de países em desenvolvimento.
(Por Adriana Patrocínio,
Correio da Bahia, 02/08/2007)