As recentes chuvas que atingiram nos últimos três dias a capital amazonense e alguns municípios do interior do Amazonas não devem continuar com a mesma intensidade nas próximas semanas e, por isso, serão incapazes de combater a “temporada de queimadas” da Amazônia. No período, que começou ontem (01/08) e se estende até o fim de setembro, tradicionalmente é detectado o maior risco para a biodiversidade dos ecossistemas da região.
Agosto e setembro são meses em que a umidade do ar tende a cair e há diminuição na quantidade de chuvas, o que amplia a possibilidade de haver focos de incêndio na Amazônia. Nas primeiras 48 horas desta semana, por exemplo, os satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) já registraram 446 focos de calor em Mato Grosso, 287 no Tocantins e 233 no Pará. Maranhão (195), Bahia (169), Rondônia (127) e Piauí (121) também não ficaram para trás.
No Amazonas, foram registrados 84 focos de queimadas entre domingo e segunda-feira, incluindo descrições de pequena, média, alta e crítica amplitude. E levando em consideração o histórico anotado de queimadas na Amazônia, a perspectiva é que os incêndios em 2007 continuem, nos próximos 60 dias, em igual escala de grandeza do registrado em anos anteriores.
Segundo dados do próprio Inpe, algumas causas primordiais contribuem no aumento da quantidade de queimadas. São elas a preparação da terra para a agricultura, o corte de madeira para o comércio ilegal de toras e a maior intensidade nos ventos, o que ajuda a “carregar” o fogo para áreas bem mais extensas. Nesse período, os agricultores tendem a planejar as mudanças no uso da terra conforme indicação de safra, o que se configura em perigo à floresta.
O Mato Grosso, por esse entendimento, representa a área de onde mais surge a pressão sobre o Amazonas. Sobretudo na região do “Arco do Desmatamento”, a qual é uma extensa faixa de terra que se estende do nordeste do Pará até o sul do território amazonense, arremetendo grande área florestal do País.
A superintendência do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) do Amazonas, que tem conhecimento da periculosidade do período, acaba de voltar de uma greve desgastante por causa da criação do Chico Mendes. Esse fator pode influenciar negativamente no combate aos incêndios e o reflexo pode ser observado, principalmente, no manejo sustentável da madeira comercializada na capital amazonense, conforme destacou estudo recém divulgado no Em Tempo.
A pesquisa, intitulada “Diagnóstico das serrarias instaladas no município de Manaus”, mostra que ao menos 30% das serrarias que estão operando na capital não tiveram crescimento qualitativo nos últimos anos, o que significa dizer que as empresas não vêm utilizando normas técnicas para a classificação de sua matéria-prima e para o produto gerado, o que compromete a sustentabilidade dos planos estaduais de manejo florestal.
A pesquisa foi realizada por Nabor Pio, doutor em engenharia florestal (UFPR), e Bruna Fontes, aluna de graduação da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). O texto está sendo divulgado na Sessão Oral do 16º Congresso de Iniciação Científica (Conic) da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), que acontece de até a próxima sexta-feira.
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Amazonas Em Tempo, 01/08/2007)