Uma operação rotineira do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) de combate à extração ilegal de madeira em áreas indígenas e de reserva florestal, no Acre, abriu uma polêmica com o Peru. Um engenheiro e dois índios peruanos foram detidos durante a operação. A empresa peruana Florestal Venao acusa o Brasil de seqüestro perante os ministérios da Defesa e das Relações Exteriores de seu país.
A polêmica aumentou com a divulgação, pelo Ibama, de um depoimento tomado pela Polícia Federal, durante a operação, sobre um suposto vínculo do presidente peruano, Alan García, com a Florestal Venao. Ele seria acionista da empresa por intermédio de laranjas, segundo o depoimento.
O Itamaraty não quis comentar a acusação de envolvimento da empresa com autoridades peruanas e disse que não fala sobre especulação. Procurado, o Ministério das Relações Exteriores peruano também não se pronunciou.
O Ibama nega ter havido seqüestro de peruanos e acusa a Venao de retirar madeira ilegalmente em território brasileiro. Diz que a empresa construiu até uma estrada para facilitar o transporte das toras para o país vizinho. De 2003 para cá, 79 peruanos já haviam sido presos na área por extração ilegal de madeira.
Foz do BreuSegundo o relatório da operação, uma força de 35 homens do Exército, da Polícia Militar do Acre, da Polícia Federal e do Ibama foi mobilizada para verificar a denúncia dos índios ashaninkas de que peruanos estariam invadindo sua reserva e, ainda, o Parque Nacional da Serra do Divisor e a Reserva Extrativista do Alto Juruá.
Os índios têm aparelhos GPS (localização por satélite) e acesso à internet. A operação aconteceu entre 17 e 23 de julho.
O relatório da missão diz que foram encontradas centenas de árvores cortadas e muitas com plaquetas da Venao para futuro corte, além de varadouros (caminhos) para acesso a uma estrada que dá no pátio da Venao, no lado peruano.
Durante o patrulhamento, os policiais detiveram os peruanos. O gerente-geral da Florestal Venao, Herbert Frey Bullón, enviou carta ao ministro peruano José García Belaunde, das Relações Exteriores, dizendo que os militares brasileiros invadiram o território peruano às 12h30 do dia 20 de julho, "" tomaram de assalto" o acampamento da empresa, a quatro quilômetros da fronteira, destruíram bens, roubaram alimentos e seqüestraram, por dois dias, o engenheiro Alan Reyner, funcionário da empresa, e os índios Elvis Shingari Espiritu e Rusbet Moreno. Segundo o empresário, o caso está sob investigação das autoridades em seu país.
"Surpresa"O relatório da Polícia Federal faz curta referência à detenção dos peruanos. Diz que o engenheiro apresentou mapas com as coordenadas da área de exploração da madeira autorizada pelo governo peruano e que, ""para a surpresa da equipe", alguns pontos são em território brasileiro. Os militares apreenderam os croquis mostrados pelo engenheiro, tomaram depoimento dos peruanos e os liberaram, segundo o relatório.
O coordenador da operação, Márcio Venício de Oliveira Lima, do Ibama, contestou a acusação de Billón sobre roubo de alimentos e destruição de bens.
(Por Elvira Lobato,
Folha de S.Paulo, 02/08/2007)