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2007-08-02
Um dia após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciar que o governo federal resolveu o problema da mortalidade infantil indígena em Dourados (MS), índios guaranis e caiuás invadiram ontem (01/08) um posto da Funai (Fundação Nacional do Índio) na cidade em protesto contra atraso na entrega de cestas básicas.

Também houve morte de uma criança indígena de dois anos de idade hoje em Dourados. O médico da Funasa (Fundação Nacional de Saúde) Zelick Trajber disse que "em princípio não tem a ver com desnutrição".

Durante a manifestação, um grupo de 50 índios manteve quatro servidores da Funai como reféns por nove horas, no posto do órgão na aldeia Jaguapiru. Protestavam contra atraso de quatro meses na entrega das cestas e diziam que ainda há crianças indígenas passando fome na cidade.

Em discurso em Campo Grande, o presidente afirmou que montou um "pelotão de choque" e resolveu o problema da morte de crianças por desnutrição nas aldeias. Disse que "vivia agoniado" em 2004 e em 2005 com notícias sobre mortes de crianças indígenas.

"Foram feitas ações políticas, habitações, melhorou a água, melhorou tudo mais. Hoje me parece que diminuiu a mortalidade infantil em 82%", disse Lula, que pediu que a imprensa fosse a Dourados noticiar que a situação "está melhorando".
Após negociação com o administrador da Funai em Dourados, Eliezer Louzada, que incluía a troca do chefe do posto indígena, os índios soltaram os reféns à tarde.
O chefe do Dsei (Distrito Sanitário Especial Indígena) da Funasa no Estado, Nelson Olazar, disse que a última entrega de cestas aos índios ocorreu em maio. Ele alega falta de estrutura para manter a entrega mensal de 13 mil cestas aos 27 mil guaranis e caiuás das aldeias do sul do Estado.

Após o governo do Estado suspender no início deste ano a entrega de cestas, as quais passaram a ser distribuídas em fevereiro pela Funasa, ocorreram mortes de crianças. Em março, a Folha noticiou que seis indiozinhos guaranis e caiuás, com até dois anos de idade, morreram devido de desnutrição em janeiro e fevereiro. Em 2006, a desnutrição apareceu entre causas da morte de 14 crianças de até quatro anos. Em 2005, foram 27 casos.

Queda menor
Segundo a Funasa, o índice de mortalidade infantil nas aldeias de Dourados caiu de 71 por mil nascidos vivos, em novembro de 2004, para 24 por mil nascidos vivos em 2006 --queda de 66%, 16 pontos percentuais menor do que a divulgada por Lula. Nas demais aldeias guaranis e caiuás, no sul do Estado, o índice chega a 66,7 por mil nascidos vivos.

O líder indígena guarani Renato de Souza, 56, que liderou o protesto, disse que "tem criança passando fome" no Estado.
Os índios, segundo Souza, não querem que a Funai assuma, a partir deste mês, a distribuição das cestas básicas. Na avaliação do líder, o atraso na entrega chega a quatro meses e ocorre devido à mudança na distribuição, que será assumida pela Funai neste mês.

Passando fome
Souza levou a Folha até a casa da índia caiuá Lucilene Oliveira da Silva, 24. "As crianças estão passando fome. Não tem comida", disse a índia, ao lado de três filhas de 1 a 6 anos de idade. O filho Maycon, 7, tinha ido buscar lenha. As crianças comeram só mandioca hoje.

Outro lado
A assesssoria da Presidência da República orientou a Folha a falar com o Ministério do Desenvolvimento Social sobre o atraso na entrega de cestas básicas para os índios guaranis e caiuás, o que gerou protestos de lideranças indígenas em Dourados.
A reportagem explicou à assessoria que ontem o presidente havia afirmado que a situação estava melhorando nas aldeias onde há crianças indígenas atingidas pela desnutrição.

Procurada, a assessoria do ministério informou que iria checar se ocorreu atraso na entrega de cestas. Ainda conforme a pasta, o governo federal manteve o compromisso com o governo do Estado de distribuir alimentos aos índios até o fim do ano. Depois, o governo do Estado deverá assumir o programa.

O administrador regional da Funai em Dourados, Eliezer Louzada, disse que o órgão assumirá a entrega de cestas para os índios a partir de 15 de agosto. Ele disse aos índios não ter informações sobre o atraso na entrega.

Nelson Olazar, da Funasa, disse que não há estrutura para manter a entrega a cada 30 dias. Ele afirmou que a última entrega ocorreu no fim de maio.

(Hudson Corrêa, Folha Online, 01/08/2007)


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