Pelo menos um milhão de mudas devem ser plantadas em áreas de degradação, de forma especial nas margens dos rios e na construção de corredores para interligar pontos remanescentes de mata atlântica na Paraíba. A iniciativa do governo do Estado ainda não tem data para ser lançada, mas o desafio já foi proposto à Superintendência de Administração do Meio Ambiente (Sudema), que está produzindo mudas para serem utilizadas na operação. De acordo com o secretário estadual de Meio Ambiente, Jurandir Xavier, a proposta é provocar um amplo reflorestamento em todo o Estado.
O anúncio foi feito ontem, na abertura do Diálogos Florestais 2007, promovido pelo Sindicato da Indústria de Fabricação de Álcool Biocombustível/ Etanol da Paraíba (Sindalcool), evento que reuniu experiências de proteção e ampliação de reservas de mata atlântica que estejam nas regiões onde as usinas estão instaladas. Jurandir não apenas avaliou a iniciativa como positiva, e acredita que a experiência do setor sucroalcooleiro pode ser multiplicada em outros setores e destacou que a secretaria tem sido parceira do trabalho. “Temos buscado apoiar da forma mais incisiva possível, porque acreditamos neste projeto”, garante.
O trabalho das usinas é conduzido pelo Programa Conhecer e Preservar a Natureza, que já plantou 100 mil mudas nativas de mata atlântica somente no ano passado, em trechos que ligam pontos isolados deste bioma na Paraíba, formando verdadeiros corredores de biodiversidade. Se o plantio continuar no mesmo ritmo de hoje, até 2037 terão sido recuperados 18 mil hectares e a Paraíba terá, com isso, a maior reserva deste bioma no Nordeste. Para o diretor da SOS Mata Atlântica, Mario Mantovani, o novo formato de produção de cana-de-açúcar implantado na Paraíba, pautado pela responsabilidade socioambiental, é uma tendência no mercado e o Estado está à frente em relação a outros pólos produtores do País como o Sudeste. “Com isso, o produto das usinas paraibanas tem um nível de competitividade diferenciado no mercado, principalmente internacional”, avalia.
Mario destaca que os usineiros paraibanos já entenderam que não é preciso devastar mais para ter espaço e desenvolver a cultura, já que existem outras possibilidades de expandir a produção. Ele lembra que, além disso, a lógica dos ambientalistas mudou e agora é preciso fazer intervenções propositivas em vez de simplesmente “demonizar” a produção.
A Paraíba conta com apenas 650 quilômetros quadrados de resquícios de mata atlântica, o que equivale a 10% do original. E a técnica da Associação para a Proteção da Mata Atlântica do Nordeste (Amane), Maria das Dores Melo, preocupa-se com o fato de que os pontos de preservação são bem pequenos, o que acaba facilitando ainda mais a extinção de algumas espécies, mas não é possível estimar quantas exatamente estão correndo perigo na região. “De qualquer forma, a iniciativa do setor sucroalcooleiro é interessante, porque demonstra que é possível ajudar a reverter este quadro de devastação sem deixar de produzir, gerar empregos e riqueza para o Estado”, otimiza.
Maria das Dores lembra que é impossível manter este processo vivo sem trabalhar em parceria, já que é preciso envolver diversos setores: a indústria, a sociedade civil e também o poder público. “Sempre houve distância entre as empresas e os ambientalistas, mas a experiência do programa do Sindalcool comprova que o diálogo é mais interessante para todo mundo”, avalia, destacando que a tendência de estabilização é sinal de que é possível também ampliar as reservas atuais.
Satisfeito com os resultados do evento, o presidente do Sindalcool, Edmundo Barbosa, também acredita que o setor conseguiu superar pequenas divergências com os ambientalistas para estabelecer uma visão para o futuro e trabalhar com uma perspectiva para os próximos 30 anos. “Não queremos trabalhar sozinhos, queremos apoio e aval de outras entidades que possam nos orientar para o sucesso deste projeto”, disse.
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Jornal da Paraíba, 02/08/2007)