“Não precisamos de energia nuclear. Energia eólica e solar são a solução para crise energética”, essa é a afirmação de Carlos Eduardo Silva, 24 anos, o presidente do Instituto Socioambiental Árvore. Formado no curso de Administração o jovem sonha em um dia ser biólogo. Quando ingressou na universidade para se tornar administrador de empresas ele disse que tinha como objetivo administrar uma organização ambientalista. Depois de formado procurou uma instituição com esse perfil para trabalhar e não encontrou. O que ele fez? Fundou sua própria organização, que é hoje a principal entidade que luta contra a vinda da usina nuclear para Sergipe. Ele defende que a utilização de fontes naturais de energia, principalmente a eólica e a solar, é a saída para a crise
Usina nuclear é coisa do passado, diz ambientalistaenergética que pode vir a acontecer. Com o objetivo de conscientizar a população e ampliar a discussão sobre os males da instalação da usina nuclear em terras sergipanas, o Instituto Socioambiental Árvore irá lançar em breve a Campanha Clima e Energia. Para falar sobre esses assuntos o Portal Infonet conversou com Carlos Eduardo numa entrevista exclusiva. Confira.
Portal Infonet - Por que dizer não à usina nuclear?
Carlos Eduardo - Primeiro porque a gente está caminhando na contra mão do mundo. A maioria dos países europeus estão começando a desativar as usinas. O Brasil tem essa mania, na hora que os outros estão jogando fora os cacarecos velhos deles, o país vai e compra e instala aqui. O segundo fator, e para esse a solução está nas fontes naturais, como o vento e o sol não existem fundamentos que o derrube, é a falta de tecnologia para o tratamento do lixo atômico. E nem estamos perto de conseguir uma tecnologia deste tipo. A energia é utilizada no reator, armazenada em tambores e depositada no armazém. Em alguns lugares ela é armazenada no subsolo. Com isso estamos cavando uma bomba embaixo da gente. Outro ponto é a segurança da usina. Concordo que pode cair um avião no reator que ele não vai sofrer danos, mas o lixo não é colocado no reator. E o local onde se armazena o lixo não é protegido. Então, num possível ataque terrorista ao armazém de resíduos nós teremos grandes problemas.
Além disso, nós temos diversos problemas sociais e econômicos onde poderiam ser investidos esses R$ 5 bilhões, que serão utilizados para construir a usina nuclear.
Infonet - Você acredita na possibilidade do país sofrer com uma nova crise energética daqui a alguns anos?
Energia solar
CE - Acredito que a crise energética vai ocorrer. Isso porque nós consumimos energia demasiadamente. Naquela época que teve o apagão, ocorreu uma crise energética e nós não precisamos construir usinas nucleares. Apenas foi feito racionamento e a crise foi superada. Agora a gente esqueceu aquela crise e estamos caminhando para uma nova. O que acontece é que quando se faz um racionamento de energia o consumo e o desperdício diminuem e a indústria e o comércio não querem passar por isso. Eles preferem que a gente enfrente uma nova crise com a construção de novas usinas, tanto hidroelétricas quanto nucleares. Não acredito que o racionamento seja um empecilho para o crescimento do país. Mesmo porque boa parte desse crise é provocada pelos gastos individuais. Existem muitas formas de crescimento e ainda formas de energia saudáveis a serem descobertas.
Carlos Eduardo diz que governo não quer perder controle energéticoInfonet - Alguns especialistas dizem que a nuclear é uma forma de energia do momento. O que você acha dessa afirmação? As outras formas alternativas ainda não estão prontas para serem utilizadas?
CE - As alternativas já são soluções para agora. A solar e a eólica já são a solução do hoje, mesmo em grande escala. O problema é que ao desenvolver a energia solar e a eólica nós temos que desenvolver a consciência das pessoas. É muito fácil pegar uma usina hidroelétrica, ou a nuclear e a termoelétrica e deixar sob o total controle do governo. A solar é colocada no telhado da sua casa, você tem o controle, você decide se quer produzir mais ou menos e tira o controle do governo. A eólica onde é colocada? Em vários ventiladores gigantescos distribuídos em locais de grande ventilação, como em sítios. A questão não é que as alternativas estão longe de serem alcançadas, que os investimentos são altos... A questão é o controle estatal sobre o potencial energético. O governo não quer perder a força. Não quer entregar isso para a população. Se você pegar R$ 5 bilhões e investir nessas fontes de energia elas vão dar o mesmo resultado energético,
Campanha explicará males da energia nuclearou superior à nuclear, mas não vai dar mais lucros aos grandões. Essa usina não vem para resolver o problema energético brasileiro. O potencial de 1MGW que a usina Guararapes vai produzir é muito inferior a outras possibilidades. Por exemplo, o Atlas Eólico, elaborado pelo Governo Federal, considera que o potencial brasileiro para energia dos ventos é de 143 GW, o que é maior do que o consumo total atual do país.
Infonet - A luta é para que a usina não venha para Sergipe e que se invista em outras fontes, ou para que não se construam mais usinas nucleares?
CE - Não queremos que se construam usinas nucleares. Apesar de dizerem que ela virá para o Nordeste isso não é fato. Uma pesquisa do Greepeace aponta que 82% das pessoas são contra a instalação. Mesmo o presidente da república querendo, mesmo os empresários querendo, eles vão ter que aprovar no congresso, como prevê a Constituição. Daqui pra lá são uns dez anos, mas se a gente começar a lutar agora, quem for contra, isso vai acontecer bem mais rápido. Então são dez anos de uma luta que começa agora. Esse é o tempo que a gente precisa para criar no brasileiro a cultura da energia solar e eólica, para voltar a produzir no Brasil a célula foto e para voltar a produzir toda a estrutura necessária para produzir energia eólica. Isso é uma questão política muito grande, uma das maiores do nosso país. Infelizmente estão querendo tratá-la por debaixo dos panos. Quando for ver, já aconteceu.
Infonet - Como vai ser desenvolvida a campanha que o Instituto está encabeçando para conscientizar a população?
CE - Nós vamos a cada interior de Sergipe mostrar os pontos negativos da vinda da usina para cá. Já estamos com um DVD pronto, fornecido pelo Greenpeace. A equipe já está sendo preparada para coordenar o debate. Essa campanha será chamada de ‘Clima e Energia’. Vamos visitar diversos locais e apresentar o vídeo e levantar o debate. No final dessa expedição, nós vamos trazer para Sergipe grandes cientistas para falar entre outras coisas, sobre alternativas de produção de energia.
(Por Carlos Eduardo Silva,
Infonet, 01/08/2007)