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problema do lixo nos Balcãs
2007-08-02
Após décadas de negligência, a região dos Balcãs adquire consciência ambiental. Porém, o manejo de lixo continua sendo um problema grave na Bósnia-Herzegovina, Croácia, Montenegro e Sérvia. “Nos apressamos para entrar na modernidade, especialmente a Sérvia, sem estarmos preparados para um mundo preocupado com o meio ambiente”, disse à IPS Dusan Vasiljevic, da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (Osce). “Antes, ninguém se importava. Pode-se dizer que é bom começar cedo. Poderia ter sido mais rápido, mas esse é outro assunto”, disse Vasiljevic, diretor do Departamento de Economia e Meio Ambiente da Missão da Osce em Belgrado.

A região não tem consciência ambiental nem capacidade para lidar com essa problemática porque as instituições públicas carecem de vontade política, organização, legislação, mecanismos adequados e de fundos suficientes. “Na Sérvia conseguiu-se superar a maioria das dificuldades. A situação é melhor do que em 2000, mas é preciso continuar por esse caminho”, disse à IPS a primeira ministra de Meio Ambiente da era pós-comunismo, Andjelka Mihajlov. Esse ano foi crucial para teste país. Slobodan Milosevic (1946-2006) caiu em um levante popular após as devastadoras guerras que levaram à dissolução da antiga Iugoslávia na década de 90. Seu governo, de 1989 a 2000, se caracterizou pelo isolamento internacional e a debacle econômica.

Desde então, o auge de privatizações transformou as fábricas em ruínas em centros de produção cujos dejetos se tornaram um problema. “O manejo do lixo é uma questão muito complicada”, disse Vasiljevic. A Sérvia é um país onde “até dois anos atrás só existia lixões e aterros de resíduos sob a terra”, afirmou. Uma forma de se desfazer do lixo sólido é enterrando. Tirava-se e compactava-se o lixo que em seguida era coberto com uma camada de terra para minimizar os prejuízos ambientais. Alguns mecanismos conseguem melhor que outros impedir a contaminação da terra e o lençol freático.

Apenas três dos 29 municípios da Sérvia têm aterros sanitários adequados. A Estratégia Nacional para o Manejo do Lixo prevê que todos tenham o seu, mas ninguém sabe quando isso acontecerá. Esse plano, adotado em 2003, estabelece formas de tratamento adequado do lixo, como sua reciclagem, que ainda não é generalizada. Entretanto, mais de 150 iniciativas privadas de reciclagem foram implementadas nos últimos dois anos. “Pelo menos não vemos mais lixões ao longo das principais estradas do país”, disse a ministra Mihajlov. A Sérvia tem 7,5 milhões de habitantes. Montenegro, com uma população de 650 mil pessoas, se autoproclamou “área ambiental” em 1992, mas até agora não fez muito para honrar esse título.

De fato, as autoridades emitiram regulamentos pelos quais se pretendeu construir uma central hidrelétrica na área protegida de Buk-Bijela, no cânion do rio Tara, o segundo maior do mundo, depois do rio Colorado nos Estados Unidos. A construção da represa teria destruído grande quantidade de espécimes de fauna e flora autóctones. Organizações não-governamentais de Montenegro, apoiadas por outras da vizinha Bósnia-Herzegovina e da Sérvia, conseguiram deter o projeto. Outro exemplo da maior conscientização ambiental em Montenegro é a construção do primeiro aterro sanitário com normas de salubridade adequadas na localidade de Lovanja, na costa do mar Adriático, perto da cidade de Tivat.

O aterro “eliminou dezenas de lixões que destruíram a paisagem de toda a região”, disse à imprensa local seu diretor, Petar Zivkovic. Tivat fica na entrada da baía de Boka, em um ventoso fiorde na costa do mar Adriático. Por sua vez, o prefeito de Podgorica, Miomir Mugosa, disse à IPS que “o tratamento do lixo sólido, em especial o local, é uma das prioridades dos novos investimentos na capital e na costa adriática”. Outro problema que preocupa os ambientalistas é o auge da construção na zona litorânea. Os proprietários, muitos deles estrangeiros, constroem casas e complexos hoteleiros inadequados que produzem grande quantidade de lixo, esperando que a municipalidade os processe.

Por sua vez, a Croácia prioriza o manejo de lixo devido ao auge turístico na costa do mar Adriático, que recebe milhões de visitantes por ano. Esse país de 4,5 milhões de habitantes construiu 120 aterros sanitários municipais nos últimos anos. A Croácia concedeu 106 permissões a diferentes empresas para coleta e tratamento de resíduos tóxicos. Mas terá de investir US$ 10 bilhões na proteção do meio ambiente, segundo uma avaliação conjunta do governo e do Banco Mundial sobre as possibilidades de entrada desse país na União Européia, prevista para o final da década.

Na Bóznis-Herzegovina, não se fez muito para proteger o meio ambiente. Essa nação despovoada continua sofrendo as conseqüências da guerra. O setor industrial é praticamente inexistente. A falta de acordo entre bósnios muçulmanos, croatas e sérvios impede que se adote uma legislação de proteção ambiental. Enquanto isso, ONGs promovem uma discussão a respeito, devido à revitalização de vários complexos industriais.
(Por Vesna Peric Zimonjic, IPS, 31/07/2007)


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