As chuvas dos últimos meses devolveram os reservatórios de água de Bagé, na Campanha, aos níveis ideais. E, no final de junho, deram fim a um período de 19 meses de racionamento. Hoje, os 120 mil moradores têm água à disposição 24 horas por dia. Com a situação normalizada, o que parecia ser uma bênção se apresenta como um novo problema.
Com a distribuição ininterrupta, o consumo cresceu 70%. Durante o período de cortes, 20 mil metros cúbicos de água eram tratados por dia pelo Departamento de Água e Esgoto de Bagé (Daeb). Hoje são 34 mil metros cúbicos.
O fluxo provocou danos na rede de distribuição. Muitos encanamentos estouraram por causa do aumento repentino na quantidade de água. A prefeitura tem atendido a cerca de 50 chamados diários para consertar vazamentos e evitar desperdício.
Apesar desse novo problema, que só deverá ser solucionado com a renovação da rede, a cidade mostra ter aprendido com a seca. Medidas comuns - mas que fazem diferença - começam a despontar pela periferia. Em parceria com o governo federal, a prefeitura vai instalar 5 mil caixas dágua em casas de baixa renda para facilitar o armazenamento.
- É o fim da garrafa pet - comemorava o desempregado Celcy Martins da Silveira, 50 anos, que foi um dos beneficiados pelo projeto.
Segundo o Daeb, os reservatórios estão sendo instalados em locais onde a distribuição de água é mais vulnerável. As caixas dágua podem armazenar 500 litros, que devem atender a uma família de quatro pessoas por até quatro dias.
Períodos de escassez levaram ao uso racional da águaA nova realidade fez a população usar a água de forma mais racional.
- Quando as crianças estão no banho, eu não deixo se passarem, prendo o grito - conta a doméstica Marcela Conceição, 37 anos.
Foram dias de banhos em horários pouco convencionais, de mutirões na madrugada para recolher a água que caía pelas torneiras e muita paciência.
- A água vinha à noite, e toda a família levantava pra juntar - diz.
Hoje a água é abundante. Um luxo que é valorizado pela comunidade.
- A gente nota que os consumidores estão mais conscientes. Têm um cuidado que não se via antes. Atualmente, todos têm medo de ficar sem água, pois já passaram por isso - observa Estefania Damboriarena, diretora do Daeb.
(Por Leandro Belles,
Zero Hora, 01/08/2007)