Agricultores e apicultores se mobilizam contra os transgênicos no país, onde deverá ser anunciada uma legislação mais rígida sobre o tema, dia 08 próximo.
Já há mais tempo se sabe que cerca de 70% dos consumidores alemães recusam alimentos transgênicos e muitas das suas organizações representativas vêm promovendo debates, mobilizações e ações jurídicas em oposição à liberação do cultivo de milho resistente a insetos, proibido em países vizinhos como a Áustria, a Suíça e a Polônia. Agora é a vez dos agricultores e apicultores que, temendo a contaminação do milho convencional e orgânico, se organizam em zonas auto-declaradas livres de transgênicos.
O movimento iniciado em 2005 por organizações ecológicas e representativas dos pequenos agricultores (como a AbL e o BUND) já é o maior movimento de base na história da agricultura alemã e continua crescendo. São 154 regiões que se declararam livres de transgênicos, uma iniciativa de resistência criativa e eficiente, envolvendo 27 mil propriedades rurais em 1.110.000 hectares, que contrastam com os 2.700 hectares de milho transgênico atualmente existentes no país.
Diante da crescente contrariedade, especialmente dos pequenos agricultores, o ministro da agricultura da Alemanha, Horst Seehofer, com sua maior base eleitoral situada no Estado da Baviera (segundo maior em zonas livres de transgênicos), começou a recuar em suas posições inicialmente favoráveis à transgenia, reconhecendo os graves efeitos ambientais do milho Bt (1) sobre outros insetos.
Além disso, o ministro agendou para o dia 08 de agosto o anúncio de uma regulamentação mais rígida sobre o tema, iniciando com o aumento da distância mínima exigida entre cultivos transgênicos e orgânicos de 150 para 300 metros.
Enquanto isso, a mobilização na sociedade civil continua crescendo. Nos dias 20 a 22 de julho foi organizada pela terceira vez o Final de Semana Livre de Transgênicos pelo movimento nacional Gendreck-weg (Fora à Sujeira Transgênica), envolvendo mais de 500 pessoas em oficinas, debates, cultos, apresentações artísticas e protestos, culminando com a destruição simbólica de 5 hectares de milho transgênico, cultivados em Oderbruch, localizada a cerca de 150 Km de Berlim, na fronteira do país com a Polônia.
Apesar da presença de 570 policiais, mais de 50 pessoas conseguiram furar o bloqueio policial e destruir parte das lavouras arrendadas por uma cooperativa da região em convênio com a Monsanto.
Em todo o território alemão os debates sobre o tema estão sendo intensificados. Palestras, debates, reportagens em jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão, livros e freqüentes manifestações contribuem para a informação do público em geral, que parece estar muito mais atento ao tema do que em outras épocas. E o famoso ditado popular brasileiro "governos são como panela de feijão, funcionam em benefício da maioria somente com muita pressão" parece se confirmar também na Alemanha.
(1) Bacillus thuringiensis, bactéria introduzida no milho com a finalidade de combater a lagarta do cartucho.
(Por Antônio Inácio Andrioli*,
EcoAgencia, 30/07/2007)
*O autor é doutor em Ciências Econômicas pela Universidade de Osnabruck e autor de "As sementes do mal".