A Câmara de Vereadores deve votar amanhã projeto de lei que autoriza a prefeitura de Pelotas a extinguir a Empresa da Pedreira Municipal (Empem). Deficitária, com maquinário sucateado e R$ 14 milhões em dívidas, entre fiscais e previdenciárias - além de reclamatórias trabalhistas -, a empresa chegou a uma situação de insustentabilidade, explicou o procurador-geral do município, Saad Salim. As atividades foram suspensas na semana passada e, conforme o diretor-presidente, Roger Ney, a Empem deverá ser absorvida por alguma secretaria e produzir apenas para o município.
Salim ressaltou que os problemas enfrentados pela Empem são históricos e que a crise já vem de governos anteriores. A empresa, em função do sucateamento das máquinas, tem capacidade para produzir 3,5 mil metros cúbicos de material ao mês, enquanto que o necessário para manter o equilíbrio e ser auto-suficiente seria oito mil metros cúbicos/mês. O valor da dívida não é atualizado, pois o cálculo foi feito há um ano e meio pela Controladoria e Auditoria Geral do Município de Pelotas (Cagemp).
Desde a última terça-feira, os 16 funcionários - quatro concursados e 12 celetistas - apenas cumprem horário, pois não há mais pedras na empresa. Até então, aos finais de semana, segundo relataram, vendiam material e rateavam os dividendos, uma vez que estão com os salários atrasados. Cada um recebia cerca de R$ 70,00. O último salário, de maio, foi pago parcialmente. Está em atraso também o repasse de vale-transporte e duas férias estão vencidas. Apesar disso, a grande preocupação dos empregados é pela manutenção dos postos de trabalho. A maioria tem mais de 20 anos de casa e alguns já estão próximos de se aposentar.
Servidores serão ouvidos hojeO presidente da Câmara, Otávio Soares (PSB), informou que os vereadores darão prioridade hoje aos funcionários que, através do Sindicato dos Municipários de Pelotas (Simp), solicitaram que o Legislativo avaliasse sua situação antes de votar o projeto. O presidente do Simp, Jorge Silva, salientou que a entidade defende a manutenção dos empregos, o restante do pagamento de maio, a folha integral de junho, vale-transporte e as férias atraso. “Mesmo que a Prefeitura absorva a Empem, queremos a garantia de pagamento dos salários devidos”, disse. Os empregados da Empem também estarão na Câmara hoje.
O que diz o projetoDe acordo com o projeto de lei enviado ao Legislativo, os bens da Empem serão incorporados ao patrimônio do Município, que assumirá todos os direitos e obrigações da empresa. Os funcionários serão integrados ao quadro em extinção de servidores celetistas, submetido às normas do regime trabalhista e estruturado conforme o sistema de classificação estabelecido na Lei Municipal 4.675/01, com redação alterada pelas leis municipais 4.882/02 e 4.951/03.
Crise não é de hojeA crise na Empem não é de hoje. Na avaliação das contas do exercício de 1998, do ex-prefeito Anselmo Rodrigues (PDT), o Tribunal de Contas do Estado (TCE) considerou irregular o que denominou de prática de atos inócuos quanto à possibilidade de reverter a situação de insolvência financeira da Empem.
Em 2005, a Câmara de Vereadores instaurou uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar possíveis irregularidades na Empem, apontadas em relatório apresentado pelo ex-prefeito Bernardo de Souza (PPS). No documento, Bernardo acusou o ex-diretor da autarquia, Júlio Gross, que residia em Porto Alegre, de ter despesas suportadas pela empresa.
Compra sem licitação, venda de produtos abaixo do valor de mercado e cedência de área composta pelo único morro que poderia produzir granito rosa também apareceram entre as suspeitas. Bernardo questionou na época ainda a compra da balança sem licitação, as trocas de saibro por argila e o sumiço de 600 quilos de dinamite, além da venda de pedra detonada à empresa paranaense, por preços abaixo do valor de mercado.
O ex-diretor Júlio Gross devolveu R$ 5.097,72 aos cofres da Empem, por conta de despesas feitas em 2004 e que foram indicadas pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) como não-públicas. Conforme o assessor jurídico da Câmara, Fernando Grassi, o trabalho da CPI foi suspenso por força de liminar judicial.
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Diário Popular, 31/07/2007)