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biocombustíveis agricultura familiar
2007-07-31
Grandes áreas do Nordeste podem contribuir com o esforço de produção de biocombustíveis a partir de projetos de agricultura familiar e plantio de girassol. A atividade poderá gerar renda e oferecerá alternativas para a população rural, diminuindo a migração para os grandes centros. Com forte potencial para substituir total ou parcialmente o óleo processado a partir do petróleo, o biodiesel vem sendo pesquisado por empresas privadas que experimentam culturas que melhor se adaptam a cada região e procedimentos mais eficientes.

A Petrobras, que mantém no Rio Grande do Norte o pólo de refino de Guamaré, está trabalhando a produção de biodiesel a partir da agricultura familiar. Isto é feito, também, para a obtenção do Selo Combustível Social, concedido pelo Governo Federal, que garante ao produtor de biodiesel direito a benefícios de políticas públicas específicas, voltadas para estimular a inclusão social de agricultores familiares na cadeia produtiva de biodiesel.

Exemplos desta ação são 148 famílias que vivem nos assentamentos: Modelo 1 e 2, localizados no município de João Câmara, cerca de 120 km de Natal (RN). Assim que ganharam a terra para morar, as famílias começaram a cultivar arroz, feijão e sorgo (importante cereal usado para alimentação animal) alimentos que eram usados somente como fonte de sobrevivência, mas graças ao crescimento dos combustíveis renováveis passaram a lidar com novas oportunidades, como o plantio de girassol.

Livânia Frizon, assentada e coordenadora dos projetos dos assentados, está há 16 anos na região e vê na produção uma forma de crescimento e cooperação junto a Petrobras. “A minha intenção quando cheguei a esta terra foi a de mudar a cabeça das pessoas. Elas têm de entender que a terra não é lugar de miséria, tudo é possível e nós estamos aqui para provar isso”, disse Frizon.

Até o momento, estão sendo cultivados pelos assentados cerca de 750 hectares de girassol, que já foram negociadas e serão comprados pela Petrobras. O assentamento também trabalha com o plantio de sorgo e cultivo de tilápias, que são vendidas para a prefeitura local e distribuídas para outros assentados.

Tecnologia nacional
Já a partir de 2008, o Brasil poderá começar a produzir biodiesel com tecnologia 100% nacional. Para isso, duas usinas de produção experimental da Petrobras, localizadas em Guamaré, cidade litorânea do Rio Grande do Norte, estão em fase de testes com produção do óleo vegetal a partir de mamona, podendo ser ampliados para outras oleaginosas brasileiras, como o girassol, dendê (palma), amendoim, babaçu, pinhão manso e soja. Além disso, ambas podem utilizar etanol ou metanol como reagente no processo de produção.

As usinas são parte do Pólo de Guamaré, complexo industrial construído pela Petrobras para beneficiar óleo e o gás natural extraído dos campos marítimos de Ubarana e Agulha e dos campos terrestres de todo o estado. Em 2005, foi inaugurada a primeira Unidade Experimental de Biodiesel, a UEB-01, usando
tecnologia convencional a partir de óleos vegetais, já a segunda, a UEB-02, inaugurada em 2006, é uma usina experimental que produz biodiesel a partir da tecnologia patenteada pela Petrobras, diretamente dos grãos das oleaginosas, sem a necessidade de processar o grão antes para a extração do óleo vegetal, tecnologia utilizada somente no Brasil.

Para a construção das duas plantas, foram investidos aproximadamente R$ 20 milhões e juntas produzem diariamente cerca de 6 mil litros de biodiesel, podendo produzir futuramente cerca de 16 mil toneladas de litros por ano. De acordo com o gerente de desenvolvimento de energias renováveis da Petrobras, Mozart Schmitt, o país precisa ter modelos de produção próprios. “Iniciativas como a do Rio Grande do Norte buscam desenvolver ou adaptar tecnologias conhecidas e inéditas no processamento de oleaginosas que podem ser produzidas no Brasil. Existem cerca de 300 tipos de oleaginosas. Não queremos ficar reféns de um único jeito de fazer biodiesel", diz.

Desde o início desta década, a Petrobras, por intermédio de seu Centro de Pesquisas (Cenpes), vem desenvolvendo estudos de produção de biodiesel. Outras três plantas industriais de biodiesel também estão sendo desenvolvidas, serão implementadas na região do semi-árido, nas cidades de Montes Claros (MG), Candeias (BA) e Quixadá (CE), com o objetivo de atender a demanda da Petrobras Distribuidora (BR) no nordeste, que hoje, comercializa biodiesel em mais de 4 mil postos em todo o Brasil. Nelas serão produzidos biodiesel a partir de vários óleos vegetais e gordura animal, e cada usina terá capacidade para produzir até 57 milhões de litros anualmente. O investimento total é de, aproximadamente, R$ 227 milhões e o início da operação nas três unidades está previsto para o final de 2007.

A previsão da empresa é chegar 2011, produzindo 855 milhões de litros de biodiesel por ano. Há 5,5 mil postos de bandeira BR que vendem o produto. A partir de janeiro do ano que vem, passa a vigorar a obrigatoriedade em que as distribuidoras terão que acrescentar 2% do biodiesel ao diesel vendido em
todo o país. Isso gerará uma demanda de cerca de 800 milhões de litros por ano, dos quais a estatal pretende entrar com 171 milhões de litros.

(Por Tatiane Oliveira*, Envolverde, 30/07/2007)
* A repórter viajou a convite da Petrobras.

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