O empreendimento Campo de Golfinhos II, da Petrobras, deverá ser licenciado sem que a empresa tenha respondido oficialmente a questionamentos feitos no processo de Licenciamento Ambiental Golfinho I. "Será uma reedição do problema, só que agora com a ausência das ONGs", ressaltou Freddy Guimarães, presidente da Associação Capixaba de Meio Ambiente (Acapema).
Segundo ele, nem o modelo de sonda que seria utilizada para a exploração do petróleo foi classificada na ocasião, o que para ele indica "posição imperialista" da Petrobras. A ONG não foi à audiência pública realizada nesse sábado (28) e lamentou o descaso com que os questionamentos vêm sendo tratados.
"Não fui à audiência porque não acredito na lisura da Petrobras. A Acapema apresentou questionamentos, dúvidas e pontos que precisavam ser esclarecidos. Os questionamentos são muito importantes e relativos ao licenciamento que ocorreu sem a menor responsabilidade", disse Freddy Guimarães.
A comunidade pesqueira e a Organização Consciência Ambiental (Orca) também fizeram questionamentos à empresa, e a informação é que ambos também ficaram sem respostas. Sem as informações sobre a sonda, por exemplo, os ambientalistas ficam sem poder avaliar os impactos que essa atividade poderá trazer à região, prejudicando o debate.
"Estas sondas causam explosões que atingem um raio de dois a três quilômetros e acabam atingindo, por exemplo, as baleias que estão indo em direção a Abrolhos nesta época para se reproduzir. É necessário saber que tipo de sonda ela utiliza", ressaltou.
Além da falta de respostas, os ambientalistas reclamam da falta de informações antecipadas e seguras sobre a audiências. Alguns deles ressaltam que só receberam o convite para a audiência dois dias antes do debate. Queixam-se igualmente de outros pontos, como o cancelamento da primeira audiência sem comunicação aos interessados.
"Entendo que as circunstâncias que cercam esse evento são no mínimo contraditórias", ressaltou.
O Campo de Golfinhos tem um histórico de conflitos com os ambientalistas e com o próprio Ministério Público Federal (MPF). No processo de licenciamento de Golfinhos I, falhas no EIA, assim como riscos a espécies que estão na Lista Oficial de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção e na Lista das Espécies Ameaçadas no Espírito Santo.
Um empreendimento como este pode representar riscos através de derramemantos de óleo e de outros químicos; perturbação acústica através das perfurações que são realizadas para as atividades explratórias; aumento do tráfego hidroviário em áreas de ocorrência de pequenos e grandes cetáceos que podem acarretar lesões físicas ou sensoriais capazes de causar o afastamento dos animais e o desagrupamento de estruturas familiares. Estes fatores comprometem o sucesso reprodutivo destas espécies.
(Por Flávia Bernardes,
Século Diário, 31/07/2007)