Os conflitos pela água e no campo devem aumentar nos próximos anos em função dos projetos de infra-estrutura hídricas previstos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A opinião é do pesquisador Carlos Walter Gonçalves, que apresentou o estudo “Conflitos no Campo Brasil 2006”, elaborado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT). Sobre as usinas do Complexo Madeira em Jiaru e Santo Antônio, o cientista questiona os reais benefícios das hidrelétricas para a população do Estado. “Energia para que e a serviço de quem?”, perguntou.
Os dados mostram que o número de conflitos por água aumentou de 14, em 2002, para 71, em 2005, caindo depois para 45, no ano passado. Os envolvidos mudaram de 14,3 mil, em 2002, para 13,07 mil, em 2006.
“Tudo indica que essas políticas vão ser implantadas e efetivamente os conflitos vão entrar”, disse. O estudo cita a transposição de águas do Rio São Francisco e a Usina Hidrelétrica de Belo Monte. No caso da transposição, na avaliação da pastoral, a obra não prioriza o abastecimento humano, e sim irrigação, criação de camarão e usos industriais.
O coordenador do Projeto de Integração do Rio São Francisco às Bacias do Nordeste Setentrional, Rômulo de Macedo Vieira, garante que a prioridade é atender o consumo humano. As outras atividades, disse, só receberão água da transposição quando houver excedente gerado pelas chuvas. “Se o excedente for para a irrigação, ótimo, pois gera emprego, combate a pobreza e diminui a miséria na região”, disse à Agência Brasil, em 23 de março.
Para o pesquisador Carlos Walter Gonçalves, outro fator que pode estimular os conflitos, tanto por água quanto por terra, é o avanço da produção de cana-de-açúcar e de outras culturas para a geração de biocombustíveis, em substituição à pecuária. Ele prevê que a criação de gado deve avançar nas regiões de cerrado e na Amazônia. “Vai haver uma redefinição do quadro espacial brasileiro. E a tendência é pressionar essas regiões”, disse.
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Panorama Brasil, 30/07/2007)